Câmara quer que brasileiros tenham melhor tratamento nos EUA

Brasília – A Câmara dos Deputados vai pedir ao Parlamento dos Estados Unidos, por sugestão da Comissão de Direitos Humanos (CDHC) da Casa, para que os deputados norte-americanos sejam ?mais incisivos? com o governo do presidente George Bush, visando estimular alterações no tratamento que é dispensado aos estrangeiros, principalmente aos brasileiros que viajam ao país.

De acordo com o presidente da CDHC, deputado Orlando Fantazzanni (PT-SP), o Legislativo brasileiro está sensibilizado com o caso das brasileiras Cássia Maria Teixeira Machado, de Goiânia, e Maria Aparecida Vieira Oliveira, de Uberlândia (MG), duas amigas que passaram por constrangimentos, tortura psicológica e humilhação no aeroporto de Nova Iorque em julho do ano passado, ao serem confundidas com falsificadoras de passaporte.

?Concluímos que a situação que essas senhoras passaram não é um ato isolado. Vários brasileiros passaram por esse tipo de tratamento. O nosso corpo diplomático tem atuado no sentido de que haja mudança nesse procedimento?, destacou.

O calvário das duas brasileiras começou quando desembarcaram em julho do ano passado no aeroporto de Nova Iorque. Por um erro de digitação, a embaixada americana em Brasília emitiu o passaporte da empresária Cássia Maria com uma numeração equivocada no visto (o número do visto não correspondia com o número do passaporte). O erro, reconhecido posteriormente pela embaixada norte-americana, custou caro para as duas brasileiras.

Por estar acompanhando a amiga, a bióloga e pedagoga Maria Aparecida também passou pelos mesmos constrangimentos. As duas foram ?retidas no aeroporto de Nova Iorque, interrogadas e torturadas psicologicamente?.

Deportadas ao Brasil, conforme relato que elas apresentaram na Comissão de Direitos Humanos hoje, constatou-se que o passaporte não havia sido falsificado. ?Entretanto, ficou só o reconhecimento do erro, sem pedido de desculpa às vítimas e sem restabelecer a verdade para que essas pessoas possam se resgatar moralmente?, afirmou o deputado Orlando Fantazzinni.

Maria Aparecida disse que saía da Câmara ?esperançosa, depois de 14 meses do episódio?. Magoada, mas determinada em ver o caso solucionado, ela informou que o processo está parado. ?Agora, com essa audiência pública, a gente tem esperança que o Itamaraty e a Câmara comecem a discutir e exigir respeito por todos os brasileiros. Que os direitos humanos possam ser respeitados. Que os cidadãos comuns, que são honestos, que pagam seus impostos, não sejam confundidos com terroristas?, frisou a mineira Aparecida.

Segunda ela, a Embaixada dos Estados Unidos assumiu publicamente o erro, mas nada fez até o momento. ?Queremos retratação. Que os nossos documentos sejam refeitos e que todas as manchas sobre os nossos nomes sejam retiradas; e que os nossos vistos sejam novamente concedidos?, apelou.

A goiana Cássia Maria Teixeira Machado espera que as autoridades brasileiras consigam resolver o caso dela e da amiga Maria Aparecida, mas sem esquecer as demais pessoas que passam por constrangimentos nos aeroportos no exterior. ?Fiquei com o passaporte dois anos e meio e não notei o erro no número da inscrição?, afirmou a empresária, dizendo que o momento mais difícil foi quando teve que admitir que havia falsificado o passaporte.

O diálogo com a polícia norte-americana foi feito com a ajuda de um funcionário de uma companhia aérea, que atuou como intérprete. ?Ficamos incomunicáveis. Eu confessei o que não devia, porque eles chegaram a dizer que minha filha, Larissa, de 16 anos, poderia ser levada para outro local; que eu poderia perder a guarda dela?, comentou Cássia Maria, emocionada, ao lembrar da interrompida viagem aos EUA no ano passado. Elas pretendiam ficar 20 dias nos Estados Unidos.

O embaixador Adolf Libert Westphalen, diretor-geral de Assuntos Consulares, Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exterior do Itamaraty, que também participou da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, informou que o Ministério das Relações Exteriores está acompanhado de perto o caso.

Ele Explicou que uma medida preventiva é procurar fazer com o brasileiro tenha uma acolhida adequada no exterior e em segundo lugar acelerar a rede do Itamaraty no exterior, para agir imediatamente nos casos de brasileiros em dificuldades. “Mas há um certo fluxo de brasileiros que se expõe a um risco muito grande, quando viaja para o exterior de forma irregular, sabendo que poderá passar por uma situação constrangedora?, alertou o embaixador.

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