Agentes penitenciários de SP param por medo de morrer

A morte do quarto agente penitenciário em menos de cinco dias, no Estado de São Paulo, deixou em alerta a categoria, que critica o governo pela falta de uma ação direta para evitar os ataques e iniciou uma nova paralisação ontem. Para a Secretaria da Administração Penitenciária, a situação é normal nas 144 unidades prisionais do Estado.

Representantes do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp) reuniram-se à tarde com o secretário de Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto, para discutir a crise causada pelos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) aos agentes.

Ontem, os agentes iniciaram paralisações por 24 horas para cada colega morto. A orientação é de que eles mantenham apenas as atividades de alimentação e de atendimento de emergências. ?Infelizmente, é a quarta vez que paramos desde a semana passada?, lamentou o secretário-geral do Sindasp, Rozalvo José da Silva. ?Estamos fazendo a paralisação para não morrer?, disse.

De acordo com levantamento parcial do Sindasp, ao meio-dia de ontem a paralisação em protesto contra os assassinatos de agentes atingia cerca de 50% das 144 unidades prisionais do Estado.

Os agentes têm sido orientados pelo Sindasp a não ficarem nas proximidades dos presídios quando não estiverem trabalhando. ?Se nada for feito, nós vamos parar por falta de condições mínimas de trabalho. Precisamos de garantia da vida?, disse Silva. ?Não tem saída. Estamos parando para não continuar morrendo.?

Mortes

Na noite de domingo, Otacílio do Couto, de 40 anos, que trabalhava no Centro de Detenção Provisória II do Belém, zona leste da capital, foi assassinado a caminho do serviço. Ele foi atacado enquanto conversava em um telefone público na região do Jaçanã, por volta das 20h. Um outro ataque foi registrado no domingo. O agente penitenciário Joselito Francisco da Silva foi alvo de atiradores por volta das 21h na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo. O veículo de Silva – que trabalha no CDP de Guarulhos – foi atingido por vários tiros. O agente, no entanto, saiu ileso e decidiu não registrar a ocorrência.

Na manhã de sábado, o agente penitenciário Eduardo Rodrigues, de 41 anos, foi assassinado a tiros por dois criminosos no bairro Jardim Arpoador, zona oeste da capital paulista. Na quinta-feira da semana passada, o carcereiro Gilmar Francisco da Silva, de 40 anos, foi assassinado com sete tiros em frente à sua casa. Um dia antes, o carcereiro Nilton Celestino, de 41 anos, foi executado com dez tiros por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele trabalhava no Centro de Detenção Provisória de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Além dos quatro agentes mortos até o momento, outros nove foram mortos durante os ataques promovidos pelo PCC em maio.

Documentos desaparecem

Campinas,SP (AE) – Um fichário contendo nome, endereço, telefone e fotografia de agentes penitenciários que trabalham no Complexo Campinas Hortolândia desapareceu do presídio. ?Estamos temerosos?, afirmou o representante da região de Campinas do Sindicato dos Funcionários dos Estabelecimentos Penitenciários, João Rinaldo Machado. Segundo ele, o arquivo sumiu durante a megarrebelião que atingiu os presídios em maio. ?Os presos conseguiram acessar a área administrativa e devem ter levado esses documentos?, disse. Entre as fichas também está a escala de trabalho dos plantonistas de final de semana.

Machado afirma que os agentes vêm recebendo ameaças. ?Os próprios presos falam diretamente, ou através de outros que mandam recados.? O Complexo Campinas Hortolândia abriga cerca de 7 mil detentos em seis unidades, onde atuam mil agentes penitenciários.

CPI do Tráfico ouve ex-diretor das penitenciárias paulistas

São Paulo (AE) – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Armas deverá ouvir hoje o ex-secretário de Administração Penitenciária de São Paulo Nagashi Furukawa. O trabalho da CPI foi prorrogado por mais 60 dias, já que deveria ser encerrado ontem.

O depoimento de Furukawa, marcado para a semana passada, mas adiado para hoje, é considerado importante porque o ex-secretário estava no cargo quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) fez uma série de ataques contra bases da polícia e rebeliões em diversos presídios, durante o mês de maio. Os atentados resultaram na morte de mais de 100 pessoas e a crise culminou com a saída de Furukawa da secretaria.

Presídio onde está Marcola teve 3 tumultos

São Paulo (AE) – De quinta-feira até ontem, o Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes (SP), complexo prisional considerado de segurança máxima, viveu três episódios de quebra-quebra promovidos pelos 141 presos que ocupam celas individuais. O complexo possui 161.

No início da madrugada de ontem, depois de horas de vandalismo promovido pelos presos, homens do grupo de intervenção rápida e policiais militares fizeram uma vistoria. O tumulto começou por volta das 19h de ontem, quando os detentos do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) quebraram os vidros das celas.

Com armas e cães, os agentes entraram no presídio por volta das 22h. Três bombas de efeito moral foram usadas na ação dos policiais. A vistoria atravessou a madrugada. Esta é a terceira vez em menos de cinco dias que presos promovem quebra-quebra em Presidente Bernardes, onde está detido Marcos Willians Herbas Camacho, o ?Marcola?, líder máximo do Primeiro Comando da Capital.

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