Bola de cristal

As previsões de crescimento da economia brasileira feitas pelos governantes, nos últimos dias de 2005, não resultam de análises sérias dos números disponíveis e projeções fundadas. Em alguns setores oficiais, são resultado de adivinhação, quiromancia, espiadas em bolas de cristal e principalmente da ansiedade de reverter as expectativas, pois 2006 será um ano eleitoral. As últimas pesquisas não deram aos situacionistas muitas esperanças de que Lula possa concorrer e ganhar, sendo reeleito presidente. E ele se agarra na economia como a tábua de salvação, exibindo esperanças que os fatos e mesmo previsões de outros setores oficiais não chancelam. Uns vêem a economia com ótica realista. Outros, com lentes de aumento. E uns poucos, movidos pela ansiedade de enxergar números promissores, usam a bola de cristal. E contam ao povo que estão enxergando um paraíso para o ano vindouro. Não o prometem. Garantem!

O Banco Central parece estar com os pés no chão. Ele vê, no ano corrente, menos riqueza e mais inflação. E o cenário que espera no fechar das contas de 2005 não indica nenhum milagre econômico para o ano que vem. Os números do ano que se finda são tão ruins que qualquer aumento que se obtenha parecerá, em percentuais, um expressivo avanço, em especial para quem não entende essa ciência tão complicada que é a economia.

O BC, face ao recuo da atividade econômica no terceiro trimestre, reduziu de 3,4% para 2,6% a previsão de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto, do ano que termina hoje. PIB é, em poucas palavras, tudo o que o Brasil produz. Considerando-se que a população brasileira cresce, por ano, algo como 2,6%, chegamos à conclusão de que nada crescemos em 2005. Ficamos do mesmo tamanho. E como íamos muito mal e, de acordo com a oposição que assumiu o governo e hoje o dirige, pois pintava a situação como desastrosa, face a péssimos governos passados, a conclusão a que se chega é que a gente não teve medo de ser feliz, mas não tem coragem de continuar infeliz. Esperávamos uma virada, mas acaba tudo como dantes: mal.

No terceiro trimestre deste ano, o PIB caiu 1,2% e é de se dar graças ao fato de não haver vingado a idéia de amarrar o salário mínimo ao Produto Interno Bruto. Se isto tivesse acontecido, o próximo mínimo, ao invés de aumentar, teria de diminuir.

Para 2006, o Banco Central estima uma alta do PIB de 4%, bem maior do que os 2,6% deste ano. É suficiente? Certamente que não, pois mesmo somado ao de 2005, ainda seremos um dos países do mundo de mais inexpressivo crescimento econômico. E não nos esqueçamos que o Brasil é dos que mais necessidade têm de crescimento econômico vigoroso, pois a miséria aqui aumenta a olhos vistos. O BC também elevou a projeção do IPCA para este ano, índice que mede a inflação, de 5% para 5,7%. O objetivo do governo é de inflação de 5,1%, mas a meta oficial é de 4,5%. Há uma margem de tolerância de 2,5% e, por isso, o índice anual pode chegar a 7%. Mais um dado pouco animador, embora tenhamos de reconhecer que essa inflação está longe daquela gigantesca e terrível que sofríamos antes do Plano Real. O problema é que a persistência da inflação acima das metas induz o BC a segurar altas as taxas de juros.

Rezemos para que 2006 seja mesmo melhor que 2005, pois se igual ou pior, não vai dar para segurar.

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