Blair sabia que Saddam não era ameaça, diz diplomata

Carne Ross, ex-especialista britânico em Iraque nas Nações Unidas, depôs secretamente a um comitê da Câmara dos Comuns em 2004 e afirmou que o governo Tony Blair entrou na guerra contra o Iraque junto com os Estados Unidos não acreditando que o país de Saddam Hussein apresentava qualquer ameaça. O Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns publicou ontem o testemunho que Ross ofereceu a portas fechadas a um inquérito oficial sobre a informação de inteligência em relação ao Iraque. Em sua conclusão, o presidente do inquérito, Lord Butler, não responsabilizou o governo pelas faltas, mas criticou oficiais de inteligência por se apoiarem em parte em fontes "seriamente viciadas" ou "não confiáveis".

Carne Ross, ex-primeiro-secretário da missão britânica na ONU responsável pela política para o Iraque de dezembro de 1997 a junho de 2002, afirmou que avaliações sobre armas de destruição em massa do Iraque permaneceram inalteradas antes da guerra, em março de 2003, mas que o governo buscou apresentar as evidências existentes sob nova luz. As supostas armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas, foram a principal alegação dos EUA e da Grã-Bretanha para invadirem o Iraque. Em seu depoimento, Carne disse que "em momento algum o governo (Blair) entendeu que as armas de destruição em massa do Iraque apresentavam uma ameaça ao Reino Unidos ou a seus interesses. Era uma visão comumente compartilhada entre autoridades de que a ameaça havia sido contida".

Segundo Carne, "a capacidade do Iraque em lançar armas de destruição em massa ou qualquer forma de ataque era muito limitada. Existia aproximadamente apenas 12 mísseis Scud cujo paradeiro era desconhecido; a força aérea iraquiana foi depreciada a ponto de total ineficiência; seu exército era uma pálida sombra de seu poder anterior; não havia evidência de qualquer conexão entre o Iraque e qualquer organização terrorista que poderia ter planejado um ataque usando armas de destruição em massa iraquianas (não me lembro de qualquer ocasião em que a questão de uma conexão terrorista foi sequer levantada nas discussões Reino Unido/EUA ou em debates internos no Reino Unido)".

Em outubro, o governo Blair conseguiu derrotar uma moção da oposição pedindo um inquérito parlamentar sobre a guerra. A oposição fará uma nova tentativa no mês que vem. Carne apóia a realização da investigação.

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