BC intervém e dólar fecha em R$ 3,76, baixa de 2,97%

O dólar fechou hoje em baixa de 2,97%, cotado a R$ 3,76, num dia marcado por muita volatilidade no mercado de câmbio. A moeda, que abriu na máxima, negociada a R$ 3,96, recuou com força por causa da significativa intervenção do Banco Central (BC), que vendeu entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões, segundo estimativas dos operadores.

Com a especulação em torno da formação da cotação média (ptax) de hoje – que corrige o US$ 1,25 bilhão de títulos atrelados ao dólar e os contratos futuros de câmbio que vencem amanhã – e a expectativa crescente de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhe no primeiro turno, o câmbio ficou muito pressionado pela manhã, o que levou o BC a atuar no mercado logo no começo dos negócios e várias vezes ao longo do dia.

A intervenção da autoridade monetária, no entanto, não impediu que a ptax – uma média ponderada que leva em conta o volume negociado – fechasse num nível elevado, de R$ 3,8949. É por essa taxa que serão corrigidos os títulos cambiais e os contratos futuros.

Com isso, os investidores que queriam empurrar a ptax para cima conseguiram seu objetivo: a taxa subiu 1,06% em relação aos R$ 3,8541 de sexta-feira. Segundo operadores, a ptax ficou bem acima dos R$ 3,76 registrados no fechamento do dia porque a maior parte dos negócios, como costuma ocorrer, foi feita pela manhã, quando as cotações estavam em níveis mais altos. Em outras palavras, a atuação foi bem menos sucedida do que sugere o nível de encerramento do dólar. O risco País, por sua vez, recuou 1,6%, para 2.397 pontos.

O economista-chefe do banco JP Morgan, Luís Fernando Lopes, diz que a movimentação em torno da formação da ptax dominou os negócios pela manhã. Como o BC havia rolado na sexta-feira apenas 21% do US$ 1,25 bilhão de títulos que estão vencendo amanhã, era esperada pressão sobre o câmbio. Como os papéis atrelados ao câmbio são corrigidos pela ptax, interessa aos detentores dos títulos empurrar as cotações para cima, para garantir um ganho maior.

O resultado da pesquisa do Datafolha, divulgada no sábado, mostrando que Lula está próximo de vencer as eleições no primeiro turno, contribuiu para a volatilidade do mercado, disse o diretor de Tesouraria do WestLB Banco Europeu, Flávio Farah. O cenário externo turbulento, marcado por fortes quedas das bolsas internacionais, também atrapalhou o mercado brasileiro, ressaltou Lopes.

Nesse cenário volátil, o BC mostrou sua cara no mercado logo no começo do dia, segundo o diretor de um banco que opera diretamente com a instituição (um dos dealers). Ele disse que o BC começou a consultar as mesas logo no começo dos negócios, oferecendo a moeda em lotes de US$ 10 milhões – em geral, a autoridade monetária vende lotes de US$ 5 milhões. Um outro operador de um banco dealer confirmou que o BC atuou logo no início do dia.

Segundo operadores, o BC, em vez de renovar US$ 200 milhões de um lote de linhas externas que vencem quarta-feira, optou por vender os recursos diretamente no mercado à vista. A oferta no mercado à vista é tida como mais eficiente do que o leilão de linhas externas porque este funciona na verdade como um empréstimo, uma vez que o banco tem de devolver o dinheiro para o BC depois de um determinado tempo.

Para Farah, a ptax ficou num nível elevado, mesmo com a atuação do BC pela manhã, porque algumas instituições financeiras se empenharam em segurar as cotações. Lopes afirmou que, para conseguir uma cotação média mais baixa, o BC teria de ofertar mais dólares do que vendeu, talvez algo como US$ 500 milhões. Para vários analistas, a instituição tem de ser muito criteriosa na venda de dólares, para não queimar reservas.

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