Bancada evangélica cai para metade no Congresso

A bancada evangélica no Congresso sofreu nesta eleição o seu pior revés desde a década de 80, quando começou a ampliar seu espaço. De acordo com levantamento parcial realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a bancada de deputados federais identificados com as igrejas evangélicas vai encolher de 61 para 30 na próxima legislatura. Segundo analistas, o repúdio dos eleitores está ligado sobretudo ao envolvimento dos parlamentares evangélicos em escândalos recentes, como o do mensalão e o dos sanguessugas.

Até meados do ano, líderes evangélicos acreditavam que tinham força para fazer a bancada crescer e até dobrá-la. O quadro mudou em agosto, quando foi divulgada pela CPI dos Sanguessugas a lista com os nomes de 90 parlamentares envolvidos com o esquema de compra de ambulâncias superfaturadas. Verificou-se que 30 deles eram bispos, pastores e obreiros de igrejas evangélicas.

Um dos citados era o líder da bancada, deputado Adelor Vieira (PMDB-SC), da Assembléia de Deus. Ele tentou se reeleger, mas fracassou.

Também não volta para a Câmara a deputada Edna Macedo (PTB-SP), irmã do bispo Edir Macedo, líder da Universal do Reino de Deus. Envolvida no escândalo das ambulâncias, ela nem tentou a reeleição.

Dos 61 deputados da atual legislatura, 50 tentaram a reeleição. No final, 18 foram reeleitos. A bancada será completada por 12 novatos, segundo o Diap.

No Senado permanecem os quatro representantes atuais. O mais conhecido é o bispo Marcelo Crivella (PRB-RJ), da Universal. Após perder a disputa pelo governo do Rio, ele volta à Casa, onde deve ficar até 2011.

Os outros senadores evangélicos são Magno Malta (PL-ES), da Igreja Batista, também vinculado ao escândalo das ambulâncias; Paulo Octávio (PFL-DF), que foi eleito vice-governador de Distrito Federal e deve renunciar ao cargo; e Marina Silva (PT-AC), atual ministra do Meio Ambiente.

Na opinião da pesquisadora Maria das Dores Campos Machado, autora do livro Política e Religião – A Participação dos Evangélicos nas Eleições, a freada no avanço evangélico se deve a dois fatores. Um deles é a competição exacerbada entre as igrejas pelo voto com identidade religiosa: "Essa guerra provocou redução de bancadas até nas Assembléias Legislativas.

Os escândalos também tiveram peso, segundo a estudiosa, que ensina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Em 2002, muitos evangélicos se elegeram afirmando que, como homens de Deus, levariam a ética para o Congresso. Hoje algumas igrejas já desaconselham os candidatos a usar nas campanhas atributos eclesiásticos, como os títulos de pastor e bispo, porque não funciona como no passado.

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