Saudades do Tião

ja70a.jpgA oficina mecânica de veículos, no fundo do quintal daquela casa no bairro do Bacacheri, está quieta agora. Dela não emana mais nenhum som. Nem do tilintar do martelo, do zumbido da furadeira, dos estalos da solda, do velho rádio de caixa ou do ronco dos motores.

O silêncio sob o telhado improvisado do velho barracão só é quebrado pelo barulho do vento passando entre os carros antigos, mexendo com os montes de revistas de automóveis aqui e ali, acumulando o pó nas prateleiras cheias de peças, balançando os mil penduricalhos pendentes das escoras de madeira como se fossem troféus.

Não se ouve o som de conversas animadas sobre qual motor ou câmbio ficariam melhor e em que carro, tampouco as risadas dos freqüentadores da oficina, aquela voz perguntando ?quem quer tomar café?? ou as revelações de que alguém tinha ?descoberto? tal carro em tal lugar e que era preciso ir lá verificar.

Na entrada, uma barata Ford 1934. Depois, um Chevrolet 1947. Nos fundos, um Ford 1940 e entre todos, um caminhão GMC 1945. Todos à espera daquelas mãos talentosas que lhes davam vida, fazendo o combustível correr pelos encanamentos e funcionando o motor.

Pelo chão, ferramentas e peças espalhadas. Nas gavetas dos armários, permanecem fechados os álbuns de fotografias de carros antigos. Badulaques por todos os lados, grades, faróis, pára-choques, motores, câmbios, diferenciais, pára-lamas, carcaças, numa completa desorganização organizada, tudo formando um ambiente aconchegante e do tipo que antigomobilistas gostam.

Perdemos, os antigomobilistas, Sebastião Geronasso Teixeira, o Tião, apaixonado por carros antigos, artesão da restauração e transformação de automóveis, trabalho que iniciou para seu próprio prazer e que o transformou num profissional dos mais requisitados em Curitiba. Perdemos a sua acolhedora oficina mecânica, a casa de todos, onde eram levados mil papos sobre corridas de carreteiras. Infinitamente mais do que isso, perdemos um amigo, um companheiro, sensível ao ponto de se emocionar e de chorar junto com o ex-piloto de carreteira curitibano José Arnaldo Grocoski, já falecido, quando este relatava com saudade sua participação nas Mil Milhas Brasileiras. Mas, a sua obra, materializada em carros antigos, ficou.

Adeus Tião, é o que saudosamente nós, seus amigos, podemos dizer. (Ari Moro)

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