Chevrolet 1938 resistiu ao terreno tortuoso do litoral

Verão, calor e… vamos à praia. Não é de hoje que o curitibano costuma descer a Serra do Mar nesta época do ano, procurando o mar e a areia. Só que agora é bem diferente do que acontecia nas décadas de 1930, 40, 50, quando não existiam estradas asfaltadas e outros recursos, tornando o “ir à praia” uma verdadeira aventura para os mais corajosos e seus intrépidos automóveis.

Quem fosse às praias de Matinhos ou Caiobá, por exemplo, era obrigado a transitar pela areia da praia desde Praia de Leste e a atravessar dois rios que, quando a maré estava cheia, não deixavam ninguém passar. Muitos veículos encalhavam nesse trecho deserto de mais de 30 quilometros de areia, para desespero de seus ocupantes e se não fossem desencalhados rapidamente, a maré subia e… adeus! Contam as boas lendas que muitos veículos, incluindo ônibus e caminhões, foram ali enterrados para sempre e que, nas noites de lua cheia, ainda se pode ouvir o ronco dos seus motores acelerados, numa imagem fantasmagórica, na tentativa de romper as garras da areia movediça..

Pois bem, o senhor Rodolpho Schinzel era um desses curitibanos corajosos que, sobretudo na época de inverno, a fim de não contrair malária, descia a serra com toda a sua família, às vezes somando 9 pessoas entre crianças e adultos, a bordo de um automóvel Chevrolet 1938, quatro portas, motor de 6 cilindros em linha e 85 cavalos de potência, em direção à Matinhos. Isto, além de toda a carga, incluindo alimentos, para passar uma temporada neste balneário. Em várias ocasiões a areia tentou engolir seu Chevrolet preto, mas, à custa de muito cavocar e da força do valente motor do Chevy, Schinzel conseguiu escapar. O senhor Rodolpho comprou o carro em 1941, usando-o no seu dia-a-dia, para viagens à Matinhos, Imbituva/PR, São Paulo/SP e inclusive Argentina, tudo por estrada de chão, vendendo-o em 1957. Na época da Segunda Guerra Mundial, o Chevrolet rodou com gasogênio, utilizando aparelho feito na própria metalúrgica da família, pertencente a Eduardo Schinzel.

Aí começa outra história interessante. Quando o carro foi vendido, Roberto, um dos filhos de Rodolpho, tinha 16 anos de idade. Em 1976, Roberto reencontrou o carro em Curitiba, no mesmo estado em que se encontrava quando havia sido vendido, inclusive com os mesmos pneus faixa-branca larga que lavara muitas vezes quando era guri, além do sabão marca “Chauffer” e das gases que utilizara para tanto, guardadas numa caixa de Matte Leão, de madeira, no porta-luvas.

Não teve dúvida: comprou-o na hora, levou-o de volta para a antiga garagem, em casa e deu-o de presente à sua mãe Elfrida, no Dia das Mães de maio de 1976. Ao longo de 7 anos Roberto fez pequenos reparos no carro, restaurando detalhes, calotas, velocímetro, faróis, mas, no motor, câmbio e diferencial não foi necessário mexer.

A emoção maior aconteceu em maio de 1989, quando Roberto rodou 200 quilometros com o Chevy até a cidade de Imbituva, comemorando as Bodas de Ouro do casamento de seus pais e transportando-os à igreja e a um clube local, para a festa. “Não há dinheiro que pague esse carro” – diz Roberto Antonio Schinzel, orgulho do seu feito, digno de aplausos. Na ilustração da matéria, o Chevrolet, nos idos da década de 40, encalhado na areia, enquanto Rodolpho Schinzel e um ajudante tentavam fazer alguma coisa! (Ari Moro)

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