Ativista do Hamas escapa de ataque israelense, diz oficial palestino

Helicópteros israelenses dispararam dois mísseis contra um carro na populosa Cidade de Gaza nesta quinta-feira (26), matando cinco pessoas e ferindo mais de 30 pedestres num ataque contra um importante ativista do Hamas. Horas mais tarde, seu destino ainda era incerto e o grupo islâmico jurou vingar-se de Israel.

Um oficial palestino disse que Mohammed Deif, de 37 anos, alvo do ataque israelense, escapou vivo com ferimentos moderados. Fontes da polícia israelense comentaram que militares disseram a eles que Deif, que durante anos encabeçou a lista dos homens mais procurados de Israel, morreu, apesar de o Exército não se ter pronunciado oficialmente sobre o assunto.

O Hamas garante que Dief está vivo. Abdel Aziz Rantisi, porta-voz do grupo, chegou a dizer que Dief não estava no carro. De qualquer forma, segundo ele, o grupo vingará o ataque. ?Atacaremos Tel Aviv. Atacaremos todos os lugares.?

O ataque ocorreu um dia depois de quatro palestinos inclusive um bebê – e um israelense terem morrido em choques entre os dois lados.

Em Ramallah, Israel continuou desobedecendo uma resolução do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e manteve o cerco de militar de uma semana ao quartel-general do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat.

Num ataque durante a madrugada de sexta-feira, pelo horário local, soldados israelenses assassinaram um militante de 21 anos pertencente ao Hamas em Hebron, na Cisjordânia, informaram testemunhas e fontes hospitalares. O Exército não comentou o episódio.

Em Gaza, dois helicópteros artilhados surgiram no espaço aéreo da cidade por volta das 13h30 locais e dispararam mísseis que destroçaram uma Mercedes verde, levantando uma nuvem de fumaça branca no bairro de Sheik Radwan.

?De repente nós ouvimos o som de uma grande explosão?, disse Mohammed Hajar, um cabeleireiro que trabalha nos arredores. ?Enquanto corria ouvi a segunda explosão.?

Sangue, pedaços de corpos mutilados e destroços estavam espalhados por todos os lados. As janelas das casas próximas ficaram estilhaçadas. Uma enorme multidão confusa e furiosa reuniu-se no local enquanto equipes de resgate socorriam as vítimas.

Um homem subiu no capô de um carro e gritou: ?Deus é grande!?

Fontes do Hamas identificaram dois dos mortos como Abdel Rahim Hamdan, 27 anos, e Issa Abu Ajra, de 29, ambos militantes do grupo e guarda-costas de Deif. Três pedestres socorridos pelas equipes morreram mais tarde no hospital.

Mais de 10 crianças estavam entre os feridos, aumentando ainda mais o número de vítimas civis numa operação qualificada pelo Exército de Israel como ?assassinato seletivo? de palestinos suspeitos de ?terrorismo?.

No caso mais controvertido de todos, um ataque contra Gaza causou a morte do militante Salah Shehadeh, do Hamas, e de mais nove crianças e cinco adultos civis.

Nos últimos dois anos, pelo menos 78 palestinos procurados e 55 pedestres foram mortos em ataques similares, denunciados pelos palestinos como uma política de assassinato e amplamente condenada pelos grupos defensores dos direitos humanos.

?O ataque de hoje é mais um claro exemplo de que o Exército israelense não se importa com a vida de palestinos inocentes?, declarou Samieh Mouhsen, da Sociedade Palestina de Defesa dos Direitos Humanos. ?Isto constitui uma política de desrespeito ao mais fundamental dos direitos humanos, o direito à vida.?

Israel alega que os ?assassinatos seletivos? representam a ?melhor forma? de evitar atentados e acusa a ANP de nada fazer contra grupos radicais e até mesmo encorajá-los. Os palestinos argumentam que as restrições ao direito de ir e vir e os pesados ataques militares impossibilitaram o trabalho de seus serviços de segurança.

Deif – que vive há anos na ilegalidade, tanto como fugitivo de Israel quanto da Autoridade Palestina – foi o alvo do ataque de hoje, confirmou sob condição de anonimato uma fonte militar israelense.

Os israelenses acusam Deif, um homem discreto conhecido com mestre em disfarces, de participação da organização de diversos atentados suicidas nos últimos seis anos. Ele sobreviveu a uma outra tentativa de assassinato por parte de Israel no início deste ano.

Ataques anteriores contra membros do Hamas levaram ao aumento da violência na região. Quando Israel matou Yehiyeh Ayyash, mentor de Dief, em 1996, o Hamas respondeu com quatro atentados suicidas que deixaram dezenas de israelenses mortos.

Segundo uma fonte militar israelense, Deif passou a dirigir o braço armado do Hamas desde a morte de Ayyash, posto que ocupou até meados de 2000, quando Shehadeh, um homem mais carismático e engajado, saiu da prisão. Ainda de acordo com a fonte, Deif voltou a assumiu as ?operações militares? do Hamas três dias após a morte de Shehadeh.

Israel pressionava a ANP a prender Deif e acusa Arafat de lhe ter dado abrigo. O Hamas, no entanto, também reclama de Arafat neste caso, acusando-o de traição em 1998.

Deif passou diversos meses detido pela polícia palestina até dezembro de 2000, quando fugiu. Israel acusa os carcereiros palestinos de terem facilitado a fuga.

Ao cair da noite, cerca de 3.000 simpatizantes do Hamas manifestaram-se perto do local do ataque de hoje. Organizadores disseram que a intenção era comemorar a segurança de Deif.

Ainda nesta quinta-feira, um civil palestino de 52 anos foi assassinato por soldados israelenses quando abriu a janela de seu quarto durante uma operação militar, denunciou o filho da vítima. O Exército do Estado judeu preferiu não se manifestar sobre o incidente.

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