Até o Palocci?!

As denúncias rodeiam, batem à porta, mas não entraram no gabinete do presidente Lula. Nem haviam atingido o seu ministro da Fazenda, Antônio Palocci, homem da inteira confiança do presidente e do mercado nacional e internacional. É certo que, por isso, mesmo com altos e baixos, a economia brasileira vai bem, a despeito de a política e o conceito ético dos partidos situacionistas e do governo se afundarem num mar de lama.

Agora, surge denúncia contra o próprio Palocci, e não vem da oposição e, sim, de um ex-auxiliar do ministro, quando este era prefeito petista de Ribeirão Preto. O advogado Rogério Tadeu Buratti declarou ao Ministério Público paulista que o hoje ministro da Fazenda recebia R$ 50 mil por mês da empresa de coleta de lixo da cidade. Não ficava com o dinheiro, mas mandava entregá-lo ao PT, na pessoa do já conhecido ex-tesoureiro Delúbio Soares, gestor confesso do caixa 2. Quem divulgou a acusação de Buratti foi o promotor Sebastião Sérgio da Silveira, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado, que o ouviu em depoimento em Ribeirão Preto.

Buratti não é nenhum santo. Está sendo acusado de negociatas com as loterias e aceitou acordo de delação premiada para reduzir as penas a que seja condenado em suas confissões ao Ministério Público, neste caso, o Federal. Ele está preso sob a acusação de mandar destruir provas de negociatas na compra e venda de fazendas e de duas empresas de ônibus, que envolveram R$ 2,6 milhões. Há suspeitas de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Buratti foi também assessor parlamentar do ex-ministro-chefe da Casa Civil e atualmente deputado José Dirceu, na década de 80. E foi secretário de Governo na gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, no período de 1993 a 1996. Saiu do cargo em 94, após denúncia de favorecimento ilícito. Desde então, trabalhou como consultor de uma empreiteira.

Não é, portanto, nenhum santo. Mas é homem direta e estreitamente ligado ao PT.

A denúncia, se verdadeira, é grave. Gravíssima! Atinge o homem mais importante do governo Lula e pode levar a desconfiança que abala a política e a ética do PT e do governo ao setor econômico, o principal escudo de Lula para defender-se das acusações que pesam sobre o seu partido e o seu governo.

Por ser tão grave e levando-se em conta o fato de que Buratti tem uma folha corrida extremamente suspeita, é bom que ponhamos as barbas de molho. Nós e o que resta, indene de acusações, no governo.

Há no País uma tendência ao denuncismo e não podemos, irresponsavelmente, desde logo acreditar em fatos tão graves quanto os que narra Rogério Buratti. Deve ser procurada prova consistente, pois interesses nacionais estão em jogo.

O Brasil tem instituições suficientemente fortes não só para descobrir o que é verdade e o que é mentira, como para resistir a mais essa surpreendente e assustadora denúncia.

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