As caras da crise

Esta é uma crise de muitas caras e múltiplas frentes. Extensa, profunda e que parece não ter fim. Se quisermos simplificar, tomando apenas os seus macroaspectos, diríamos que ela pode ser vista de uma ótica político-ética e outra econômica.

O cenário político-ético é um mal sem remédio, na medida em que se multiplicam as denúncias e mais lama é jogada no mar pútrido de Brasília, com ramificações por diversos estados. Atinge com força as hostes situacionistas, mas não exime a oposição, que, em estados como Minas Gerais, praticaram os mesmos delitos de que são acusados os governistas.

Tal cenário se espraia até alcançar pontos no exterior. Já são investigados aportes ilegais de dinheiro de paraísos fiscais para o marqueteiro de Lula e dólares de Cuba para financiamento da campanha do presidente. De tudo o que se fala e investiga, provado mesmo está um percentual ainda pequeno, porém suficiente para abalar a confiança da nação. Até aqui, esse cenário não havia abalado a economia.

Não foram poucas as tentativas de atingir o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para que afrouxasse o aperto fiscal que mais agrada aos credores do exterior que ao empresariado nacional. E desagrada as massas trabalhadoras, que vêem o desemprego se eternizar.

Os resultados econômicos, entretanto, pelo menos em termos nominais, vinham sendo satisfatórios, o que sustentava a política de Palocci de obtenção de superávites primários cada vez mais elevados, cortes de recursos para o desenvolvimento interno e mesmo para tocar programas governamentais. Lula sempre apoiou essa política e o seu ministro da Fazenda.

Agora as coisas mudam nos dois macrocenários. O econômico revela os primeiros revezes, com um sensível desaquecimento, o que prova que só a política fiscal não basta para sustentar seus sucessos. Mister se faz que não soneguem recursos essenciais para a continuidade do desenvolvimento do País. E muda no campo político-ético, que apresenta uma cunha avançando sobre a política econômica, através de ataques visando o seu mentor e executor, Antônio Palocci. São investigados vários assessores que com ele colaboraram quando prefeito de Ribeirão Preto. Estariam envolvidos em negociatas e mesmo no suposto transporte de recursos de Fidel Castro para financiar a campanha de Lula.

Palocci está sendo convocado para falar no Congresso de sua política econômica e nas comissões parlamentares de inquérito, sobre as denúncias contra seus assessores, que teriam, em alguns casos, agido a seu mando ou com sua concordância e condescendência.

Nessa nova frente da crise, passou a atuar o fogo amigo. As esquerdas do PT condenam a política econômica de Palocci e, por isso, põem lenha na fogueira dos escândalos político-éticos.

A ministra Dilma Rousseff, que sucedeu a José Dirceu na Casa Civil, mostra-se mais ousada que seu antecessor e ataca pública e frontalmente a política econômica de Palocci, vale dizer, a de Lula. A nova direção do PT, através de seu novo presidente, Ricardo Berzoini, apóia a posição de Dilma e Lula já estaria admitindo sacrificar seu ministro da Fazenda, porém ameaçando a oposição com algum nome também do seu desagrado para substituí-lo.

O fim da crise parece estar longe. Certamente avançará sobre o período da campanha eleitoral do ano que vem, influindo decisivamente no futuro do País.

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