Após decepção em 2006, Brasil busca privacidade

Ao contrário da Copa do Mundo da Alemanha-2006, quando o início da preparação do Brasil na cidade suíça de Weggis foi marcado por jogadores que se apresentaram acima do peso, invasões de torcedores ao campo de treinamento e uma exposição excessiva da seleção, desta vez na África do Sul a história é bem diferente.

Como o técnico Dunga, capitão do time campeão do mundo nos Estados Unidos em 1994 faz questão de ressaltar, a prioridade tem que ser a seleção, o que fez da preparação para a Copa que começa na próxima sexta-feira algo completamente distinto.

Há quatro anos, os treinos da seleção foram realizados com venda de ingressos, segurança mínima – o que possibilitou invasões de campo -, e os torcedores podiam pedir autógrafos aos jogadores na saída dos coletivos.

Outra diferença era o acesso da imprensa aos atletas, que passavam por uma zona mista todos os dias para conceder entrevistas.

Para a Copa no continente africano, as diferenças são gritantes, a começar pelo tratamento à imprensa. Apenas dois jogadores falam por dia, em uma entrevista coletiva de tempo limitado, e após os treinos os atletas saem por um portão afastado dos jornalistas.

A situação gera muitas queixas dos repórteres e até alguns atritos com o treinador e seu auxiliar, Jorginho, mas a ‘família Dunga’ parece ter assimilado muito bem a determinação do comandante, já que mesmo nos dias de folga os jogadores alegam não ter autorização para falar com a imprensa.

Como a atual comissão técnica da seleção parece disposta a fazer de Weggis um exemplo do que não deve ser feito, o local de concentração da seleção em Johannesburgo, o The Fairway Hotel, fica dentro de um clube exclusivo de golfe (o Randpark Golf Club) e a pedido de Dunga um grande tapume foi instalado diante do estabelecimento para impedir a visão dos quartos dos jogadores.

Para completar o pacote, Dunga evitou a convocação dos jogadores considerados ‘festeiros’, como Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e Adriano, e optou por atletas que aceitaram o que ele chama de comprometimento com a seleção.

O capitão escolhido pelo treinador, o zagueiro Lúcio, e o camisa 10, Kaká, são evangélicos, assim como o auxiliar Jorginho. Além disso, dos 23 convocados, 22 são casados. E mesmo assim, o único solteiro, o reserva Júlio Baptista, já está de casamento marcado.

A situação dá à seleção que vai tentar o hexacampeonato um perfil mais caseiro, o que parece ser a meta do técnico.

Até o momento, apesar das críticas, os resultados têm mostrado que Dunga parece estar certo: sob o comando dele o Brasil conquistou a Copa América de 2007 e a Copa das Confederações de 2009, além de ter encerrado as eliminatórias sul-americanas para a Copa em primeiro lugar.

Mas como o próprio treinador já deixou claro que sabe, qualquer resultado diferente do título mundial provocará uma nova série de críticas.

O Brasil estreia no Grupo G da Copa no dia 15 de junho contra a Coreia do Norte. A seleção volta a campo cinco dias depois para enfrentar a Costa do Marfim e encerra a participação na primeira fase no dia 25 contra Portugal.