Alvo errado

Alguns dos programas do governo Lula que têm merecido muita propaganda e são exibidos como vitoriosas campanhas contra a fome, o desemprego e outras carências de milhares de brasileiros, têm fracassado. São programas bem intencionados e mal concebidos. Trabalham sobre carências não dimensionadas com precisão e contam com recursos insuficientes, quando não meros números no papel. E, quando existem, sempre em quantidade insuficiente, perdem-se nos escaninhos da burocracia, que é gastadora e atrasa a execução de qualquer projeto de grandes dimensões.

O Fome Zero, apesar da barulheira que sobre o mesmo se fez e ainda se faz e da propaganda que fala em seis milhões de famílias já assistidas, parece invisível. E visível apenas nos casos em que houve desvio de recursos, utilizados para beneficiar apaniguados políticos, comprar votos e alimentar gente que já estava de barriga cheia.

Outro programa em que o governo punha muita fé e está caminhando para o fracasso total é o do Primeiro Emprego, que visa beneficiar com incentivos financeiros empresas que dêem trabalho aos jovens que ainda não adentraram no mercado. Verdade ou mentira, o fato é que não foi negada a notícia de que, um ano depois de existir, esse programa havia conseguido emprego apenas para um só jovem.

Mas existem números mais alentadores. De 2003 até agora, 3.400 jovens foram contratados mediante incentivo do governo federal às empresas, de acordo com balanço do Ministério do Trabalho. Esse número, diante da massa de desempregados, 45% na faixa da juventude, é simplesmente irrisório. O Ministério do Trabalho contabiliza 5.300 jovens inseridos no mercado, mas aí entram os que estão no mercado formal, no informal e até mesmo em estágios.

Diante deste quadro nada alentador, o governo acaba de decidir esvaziar o Primeiro Emprego, retirando a principal linha do programa, que era o subsídio de R$ 1.500 para os empresários, por jovem pobre empregado.

Em substituição, pretende não comprar empregos, mas aplicar o pouco dinheiro de que dispõe na preparação de mão-de-obra, através de cursos profissionalizantes, mesmo que de curta duração, ministrados por ONGs. Assim, não daria o emprego, mas a condição essencial para que ele seja conseguido: a habilitação para o trabalho. Essa segunda versão do programa já vem merecendo críticas, pois não permitiria avaliar resultados em termos de empregos de fato conseguidos para os jovens. Verdade, mas muito pior era a situação de até agora, quando não havia habilitação para o trabalho nem trabalho em número representativo diante da massa de desempregados de primeira viagem.

O governo, enfim, baixou a cabeça e aceitou o fracasso do Primeiro Emprego. Quanto à sua segunda versão, é uma incógnita em termos de resultados, mas parece óbvio que melhor do que dar peixes é ensinar a pescar.

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