Aldo Rebelo fracassa na estréia como presidente da Câmara

Brasília (AE) – O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), estreou sem sucesso na reunião de líderes para tratar dos trabalhos da Casa. Feito ainda sob impacto da disputa acirrada pela presidência da Casa, o encontro terminou sem resultados práticos e refletiu o clima tenso entre governistas e oposição. Não houve acordo em torno de uma pauta de votação e a única decisão foi a convocação de uma nova reunião de líderes na próxima terça-feira. Aldo Rebelo não conseguiu apoio para a votação da proposta de emenda constitucional que permite ao Congresso fazer mudanças eleitorais até 31 de dezembro para entrar em vigor já no próximo ano.

Mesmo com uma presença de 509 deputados na noite de quarta-feira, não houve sessão de votação hoje na Câmara. Em seu primeiro dia no cargo, Aldo se reuniu com líderes e cumpriu uma agenda protocolar com visitas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. A oposição não aliviou: "Se eles tivessem maioria, entrariam na reunião marcando uma agenda de votação para hoje à tarde", afirmou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). "O governo construiu sua base no toma-lá-da-cá. Não vamos aceitar isso", completou o pefelista.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP) resumiu a disposição de seu partido com a nova presidência da Casa: "Vamos votar as matérias e continuar fazendo oposição a esse governo medíocre e corrupto que está aí". À tarde, em entrevista, Aldo comentou as críticas da oposição: "Encerrada, o que se trata é recolher a disputa e tratar dos interesses do país e da sociedade. Não sei por que ficar repercutindo formas, temas e debates próprios para a disputa eleitoral".

Mais um exemplo do clima pesado entre oposição e governo foi registrado logo no início da reunião de líderes. Ao chegar, Goldman enfrentou críticas do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do líder do PP, José Janene (PR). Os dois cobraram explicações do tucano, que havia declarado que o resultado da eleição tinha sido a "vitória do mensalão". "Foi a vitória do ‘mensalão’. Os grandes líderes do ‘mensalão’ estavam pulando de alegria. Essa é a realidade", contou Goldman, após deixar a reunião. "Evidentemente que nem respondi. Falo o que eu quero e da forma que eu quero", completou.

Para retomar as votações, o líder pefelista condicionou a possibilidade de um acordo para destrancar a pauta do plenário da Casa – com cinco medidas provisórias e quatro projetos de lei com urgência – à votação da proposta que prevê a autonomia do Banco Central. "Se eles querem acordo para desobstruir a pauta, terão de incluir temas de interesse do PFL e o primeiro deles é o projeto da autonomia do Banco Central", afirmou Maia. Ao abrir a reunião, Aldo afirmou que não havia condições de a Câmara votar o projeto que muda as regras eleitorais até amanhã (30), quando vence o prazo final pela lei para que as alterações entrem em vigor no próximo ano.

Nessa impossibilidade, ele quis saber sobre a hipótese de a Câmara votar em outubro a proposta de emenda que altera esse limite para mudanças. Mais tarde, em entrevista, Rebelo afirmou que as mudanças na legislação eleitoral não necessariamente terão de ser feitas para entrar em vigor nas eleições do próximo ano, pois poderão ser votadas também para eleições futuras (2008 e 2010). "Casuísmo seria se as mudanças fossem para provocar resultados na eleição do próximo ano", afirmou.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), só concorda com a votação da emenda se houver simultaneamente um acordo sobre o conteúdo da mudança eleitoral. De acordo com Goldman, seu partido não concorda em "abrir a porteira sem saber o que vai passar por ela". "Nada será aprovado se não houver consenso na regra eleitoral", afirmou o tucano. "Não queremos nenhuma armadilha para que haja retrocesso ou recuo", completou. Maia adiantou que não concorda com a proposta de Aldo.

O líder da oposição, José Carlos Aleluia (PFL-BA) foi mais duro: "Não vamos aprovar mudança na Constituição para atender acordo para reduzir a cláusula de barreira. É imoral, é um casuísmo e é inaceitável", afirmou Aleluia. Apesar das animosidades, o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), saiu otimista da reunião. "O ambiente mudou. É o fim da paralisia na Casa", afirmou Casagrande.

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