Agroecologia no Paraná é discutida em evento da MOP3

As ações de fiscalização ambiental em lavouras paranaenses e o modelo de agroecologia implementado pelo governo do Paraná foram abordados nesta sexta-feira (17) pelo presidente do Instituto Ambiental do Paraná, Rasca Rodrigues, durante as discussões do Fórum Global da Sociedade Civil ? evento paralelo à 3ª. Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP3).

?O Paraná se afirma como grande pelotão de resistência ao transgênico e está optando por um caminho que foge do monopólio das multinacionais. Temos convicção de que não existe domínio quanto à segurança alimentar nesta tecnologia utilizada em sementes transgênicas ainda?, disse Rasca. Segundo ele, o IAP está fazendo estudos de impacto ambiental em áreas anteriormente cultivadas com sementes transgênicas.

?A erosão e a perda de qualidade do solo são visíveis. Após a implementação de modelos sustentáveis de agricultura, pudemos constatar que existem alternativas viáveis e voltadas à preservação ambiental que contribuem para a estabilidade da produção agrícola do estado?, afirmou o presidente do IAP.

Rasca citou como exemplo o Programa Paraná Biodiversidade, que atua na construção de ?corredores de biodiversidade ou corredores ecológicos?. O programa já investiu mais de R$ 2,5 milhões para levar às pequenas propriedades rurais ? localizadas próximas às áreas em que estão sendo implantados os corredores ? práticas ambientalmente corretas, eliminando o uso de agrotóxicos. Foram implantados para isso 32 módulos agroecológicos. Cada um deles reúne grupos de dez a 20 pequenas propriedades, que são incentivadas a adotar modelos agrícolas de produção sustentável, com menor impacto ao meio ambiente.

O programa oferece até R$ 6 mil por módulo para a compra de equipamentos ou adaptações no sistema produtivo. Aproximadamente 600 propriedades de até 30 hectares, em nove municípios paranaenses, substituíram cultivos com uso de agrotóxicos por atividades como apicultura, piscicultura e plantio de orgânicos. Os produtores recebem ainda orientação e capacitação técnica para que as práticas agrícolas sustentáveis alcancem os resultados esperados.

Outra ação modelo desenvolvida pelo Paraná é o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA), criado para promover o desenvolvimento da agricultura orgânica por meio de pesquisa, validação, difusão e capacitação de agricultores familiares, estudantes e profissionais da área. Mais de 3 mil pessoas já foram capacitadas desde a criação do CPRA.

O CPRA produz insumos como mudas, biofertilizantes, composto orgânico, sementes e húmus para suas atividades e ainda destina parte de sua área para a produção de alimentos ? olerícolas, frutíferas e plantas medicinais, aromáticas e condimentares.

Soberania alimentar

A pesquisadora do grupo mexicano de Ação sobre Erosão Tecnologia e Concentração (ETC), Silvia Ribeiro, disse que o Paraná tem uma visão de futuro em relação à agricultura e o meio ambiente.

?A agroecologia é a solução para a soberania alimentar. Dez empresas em todo o planeta detêm, através das patentes, um mercado que vai desde a produção de sementes até a produção e comercialização dos alimentos. Por outro lado, você tem a agroecologia, com produção diversificada, sem uso de agrotóxicos, que pode promover a soberania e a independência?, disse Sílvia. Segundo ela, a agricultura familiar e a agricultura camponesa são modelos que proporcionam a estabilidade do meio ambiente.

Sílvia comentou a iniciativa do programa de Mata Ciliar, que está sendo desenvolvido no estado. ?É uma ação extremente importante para a preservação do solo. O uso de fertilizantes e o plantio de transgênicos traz conseqüências irreversíveis para o solo, pode perder totalmente a sua capacidade de produção em dez anos?, explicou a pesquisadora. Como exemplo, ela citou o solo da Argentina, em boa parte devastado pelo uso contínuo de agroquímicos.

A pesquisadora elogiou a política adotada pelo Paraná contra os transgênicos. ?É um posicionamento muito importante para o mundo. O Paraná clama pelo direito de não depender de patente e de fiscalizar a sua própria produção e deve ter o apoio do governo brasileiro para isso?, afirmou.

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