Advogado dos pilotos do Legacy critica ‘diálogos fora de contexto’

Segundo um dos advogados dos pilotos Joseph Lepore e Jan Paladino, a análise de diálogos do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol não pode ser considerada um indicativo de despreparo dos americanos ou inexperiência na operação do jato. ?Quando você lê as conversas, transcritas de forma truncada e muito mal traduzidas, tudo adquire uma dimensão errada?, diz Theo Dias, advogado criminal e professor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas. ?Os pilotos nunca estiveram perdidos e tinham intimidade suficiente para voar com uma aeronave como aquela. O resto é presunção das pessoas.

A legislação internacional determina que a tripulação tem de fazer dois vôos de reconhecimento, de em média duas horas, com um novo avião e testar três arremetidas. Dias afirma que Lepore e Paladino têm larga experiência em aviões parecidos e simuladores de vôo e estudaram as rotas brasileiras. ?Os trechos que vazaram estão descontextualizados. Ou você acha que uma empresa como a ExcelAire (dona do Legacy), uma das maiores nos EUA, iria deixar um jatinho de US$ 25 milhões nas mãos de dois pilotos incautos? A falha foi da torre em São José dos Campos.

As gravações do Legacy e dos controles de vôo mostram seguidas falhas de comunicação entre os controladores e os pilotos. Antes de autorizar a decolagem, a torre de São José deveria ter passado para os americanos todo o procedimento até a chegada em Manaus. O plano de vôo do jato deveria ser: sair em 37 mil pés, passar para 36 mil a partir de Brasília e, já sobre Mato Grosso, subir para 38 mil. O operador de São José só avisou os americanos que eles voariam a 37 mil pés direto para Poços de Caldas. ?Esse controlador que autorizou o vôo deveria ter deixado mais claro que a altitude de 37 mil pés valia apenas para o trecho até Brasília?, diz um engenheiro aeronáutico, que cita o inglês precário dos operadores como um dos motivos para a confusão. ?Ele precisava ter especificado que o jato seria obrigado a alterar sua posição para 36 mil pés ao chegar na capital federal.

Nos diálogos publicados domingo pelo jornal Folha de S. Paulo, um dos americanos (a transcrição não identifica se Lepore ou Paladino) admite depois do choque que causou 154 mortes que não havia recebido ordens para mudar de altitude. ?Nós estávamos a 37 mil pés e eu estava no processo de tentar comunicação?, diz ele. A Aeronáutica decidiu que irá matricular todos os controladores em cursos de inglês

Em reportagem publicada ontem, especialistas em segurança de vôo disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que os americanos eram despreparados e não sabiam operar equipamentos do Legacy. Com base nas transcrições, eles acreditam que Lepore e Paladino não digitaram corretamente o plano de vôo no Flight Management System (FMS), equipamento que gerencia todos os dados do trajeto. Do contrário, a tripulação seria avisada por alerta sonoro ou de luz cada vez que chegasse ao ponto da rota onde fosse necessário mudar a altitude

A Aeronáutica quer fazer um workshop com todos os integrantes da rede de tráfego aéreo – Infraero, Anac e empresas aéreas – para mostrar os problemas que ocorrem quando se ultrapassa a capacidade de controle de aeronaves. Colaboraram Eduardo Reina e Tânia Monteir

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