Acordo na OMC depende dos EUA, diz Amorim

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, mostrou-se nesta manhã confiante na possibilidade de conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) ainda neste ano. Depois da abertura da primeira reunião plenária do Grupo Piloto sobre Mecanismos Inovadores e Financiamento do Desenvolvimento, no Itamaraty, o chanceler afirmou que, apesar do fracasso na tentativa de finalizar os pré-acordos dos capítulos agrícola e industrial neste final de semana, as negociações entraram em "uma zona na qual o acerto final é vislumbrado".

"É preciso um movimento de todos neste momento. Mas o mais importante é que os Estados Unidos efetivamente decidam pela redução de seus subsídios domésticos à agricultura", completou. Para Amorim, os sinais de um possível acordo foram dados pelos três principais lados – a União Européia indicou sua disposição de abrir mais seu mercado agrícola, embora haja ainda detalhes a serem esclarecidos; os Estados Unidos já apresentaram uma proposta importante sobre subsídios domésticos, embora insuficiente; e os países em desenvolvimento se dispõem a abrir seus mercados industrial e de serviços, embora em menor medida que os países mais ricos.

"Por isso precisamos agora da intervenção dos líderes mundiais", declarou, ao referir-se à proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desbloquear as pendências da Rodada com compromissos políticos no mais elevado nível. Essa idéia poderá ser concretizada na reunião do G-8, em São Petersburgo, que começa no dia 15. Segundo Amorim, não seria benéfico colocar a Rodada Doha em um "congelador", como ocorreu com outras negociações multilaterais. Ele lembrou que a Rodada, lançada em 2001, respondeu a uma clara intenção da comunidade internacional de responder ao avanço do terrorismo e rebeliões e da fome e pobreza com a manutenção do sistema multilateral de comércio.

Para ele, os processos eleitorais no mundo – eleições parlamentares nos Estados Unidos e presidenciais no Brasil e no México neste ano; eleições presidenciais na França em 2007 – não deveriam interferir nesse processo, ao aumentar pressões de setores nacionais sobre os candidatos. "Um líder tem de ter visão na frente", afirmou. Amorim destacou ainda que o papel do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, na conclusão do acordo será decisivo. Lamy terá até o final deste mês para aproximar as posições entre as demandas e ofertas dos principais atores da organização.

Mercosul

Para Amorim, o ingresso da Venezuela ao Mercosul fez do bloco, pela primeira vez, "a cara da América do Sul". O chanceler lembrou que mencionar o bloco como uma realidade do Cone Sul tornou-se comum, o que gerava reações dos países ao Norte. Com a Venezuela na categoria de sócio pleno, essa vinculação sub-regional torna-se irrelevante. "É evidente que, agora, o Mercosul tem a cara da América do Sul", afirmou, logo depois da abertura da primeira reunião plenária do Grupo Piloto sobre Mecanismos Inovadores de Financiamento do Desenvolvimento, no Itamaraty.

Questionado se essa nova composição do Mercosul não deverá dificultar uma eventual retomada das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), dada a total oposição do governo Hugo Chávez a esse projeto, o chanceler escapou: "Nossa prioridade, neste momento, é a Rodada Doha da OMC". O chanceler destacou que é compreensível a insatisfação dos sócios menores do Mercosul – Uruguai e Paraguai – com o bloco, mesmo com suas "expressões estridentes". Mas, enfaticamente, defendeu que esses parceiros não deixarão o Mercosul.

"É muito difícil captar o olhar de uma negociação no mundo, ainda mais quando se atua individualmente. A não ser que seja para assinar um acordo pré-fabricado", argumentou. Amorim afirmou ainda que sua proposta para o Mercosul envolve uma extrapolação das questões tarifárias, como acordos entre os sócios sobre políticas de financiamento, de compras governamentais, de normas técnicas e outras. Parte dessa agenda foi detalhada em sua visita ao Uruguai, em meados de junho.

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