A polêmica dos padres candidatos

Em pleno século XXI vem à tona no Paraná uma discussão tão antiga quanto a história do Cristianismo: a participação de religiosos na política. O assunto é controverso e não reúne unanimidade entre o clero. No entanto, muitas dioceses já se manifestaram contrárias à participação de seus clérigos no pleito eleitoral de 2004, com base em resolução da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de 1997, que quer fazer cumprir o Cânon 287, que restringe a participação de padres na política.

Vale lembrar, no entanto, que a Igreja canonizou mais de 400 santos que, de um jeito ou de outro, fizeram política. Santo Agostinho era prefeito e bispo de Milão e muitos padres fizeram política, instalando e depondo reis e imperadores. Chanceleres, rainhas, condes, duques foram considerados santos, exatamente porque se serviram da política para ajudar o povo.

Além disso, a Bíblia fala o tempo todo de política e de políticos ao narrar a história dos reis e revolucionários daqueles tempos e ao falar do povo de Israel, pobre e oprimido, que ao longo da jornada confiava em Deus através dos seus líderes.

Há momentos na história de um país nos quais os clérigos não podem ficar indiferentes. Há inúmeros exemplos de religiosos santificados a partir da participação em uma insurreição como é o caso dos poloneses Joseph Kalinovski e Adam Chmielovski.

O próprio Papa é chefe de um Estado soberano, exercendo todos os atributos da soberania política. Quando viaja é recebido como chefe de Estado. Além disso, o Papa recebe embaixadores e envia núncios como fazem todos os chefes de Estados. De certo modo, pode-se dizer que o Vaticano é o Estado mais antigo do Ocidente porque permanece desde o século VIII.

A participação do clero na política é quase um dever, uma vez que religiosos estão diretamente ligados às comunidades, tendo pleno conhecimento de seus anseios e necessidades. A omissão justifica a situação existente e combate de fato todos os movimentos de mudança social.

Além disso, os padres não precisam de clientela, nem precisam de um patrão poderoso. Podem estar na vida política sem depender de nenhuma cadeia de clientelismo. Os sacerdotes também não precisam fazer carreira política, pois não dependem da política para viver.

A omissão da Igreja, portanto, não se justifica. Pecado não é participar da vida pública, mas contribuição pelo silêncio para que a corrupção se mantenha.

Padre Paulo

é deputado estadual pelo PT/PR.

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