A mulher

Todo ano, no Dia Internacional da Mulher, nos sentimo na obrigação de dizer alguma coisa nova e inteligente a esse ser que já mereceu de nossa parte as mais diversas definições, sem que nós, os homens, tenhamos conseguido realmente desvendar sua alma. É evidente que nessa busca, em nossa incapacidade de compreendê-la, às vezes, nos valemos de conceitos não tão nobres, especialmente quando apelamos para o humor.

Paradoxalmente, é na linha humorística, onde deixamos transparecer nossa insensibilidade e nossa incapacidade de compreensão, que me socorro para tentar dizer alguma coisa.

Primeiro, valho-me de uma assertiva utilizada pelos homens, quando afirmam que se mulher fosse para ser compreendida viria com manual de instrução. Mais do que demonstrar eventuais complicações da alma feminina, esse raciocínio revela que os homens, que se vangloriam de sua racionalidade, somente conseguem entender alguma coisa quando alguém lhes explica, com muita paciência. E as mulheres têm paciência. Caso contrário, estaríamos em situação muito difícil.

Segundo, recorro ao saudoso Adoniran Barbosa. Em uma de suas belas canções, com a sensibilidade de quem entende alguma coisa desse ser especial, diz que Deus criou o mundo e criou o homem, deste tirou uma costela e fez a mulher. Daí por diante, o homem passou a trabalhar para a mulher. Mas, se Deus tiver que lhe tirar alguma coisa, que lhe tire o trabalho, a ?muié? não. Essa máxima revela a síntese da importância da mulher em nossas vidas e nada mais precisaria ser dito.

Não resistindo à tentação, quero dizer alguma coisa e aí constato que, ao falarmos de nossas mulheres, de todas elas, como diz o Martinho da Vila, não conseguimos dizer nada de útil, ficamos andando em círculo. Se falamos de nossas mães e filhas, elas são maravilhosas; se falamos de nossas esposas/companheiras e namoradas, elas são excepcionais, enquanto estivermos imbuídos dos sentimentos que, pensamos, sejam amor ou paixão. Esfriados esses sentimentos, elas viram megeras. E elas não merecem, não é porque aqueles nobres sentimentos arrefeceram-se que elas deixaram de ser maravilhosas. O que me faz perguntar: será que os homens são capazes de amar? Tenho esperança.

Para mim, sem fugir do lugar comum, a mulher é uma criação divina e não poderia vir acompanhada de manual de instrução, não precisa ser compreendida por quem não se compreende e não consegue enxergar por miopia o que ela representa. Se a mulher, um dia, chegar a ser compreendida, perderá o seu encanto. Ela não foi feita para ser compreendida, mas sim para ser amada em todo o seu ser, por tudo que ela é e representa.

Tenho duas esperanças: uma, que a mulher, que em todos os tempos tem se revelado tão generosa para com o homem, permaneça assim, independentemente de nossa limitada capacidade de compreensão. Outra, que os homens entendam que a violência não resolve o problema de quem não alcança algo acima de sua compreensão.

A nós homens, sem pieguice, mesmo que tenhamos perdido uma mulher ou sido abandonados por ela, resta admirá-la, estimulá-la, respeitá-la e torcer para que Deus, em sua bondade, se um dia tiver que nos tirar alguma coisa, que não seja a mulher…

Antônio Dilson Pereira é advogado e professor,  e-mail: dilson.pereira@brturbo.com.br

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