A escolha do livro

Uma das questões mais freqüentes que os professores fazem, aos outros e a si mesmos, quando pensam em projetos de formação de leitores, é como escolher um livro para indicar aos alunos. Desafio e riscos cercam essa ação indispensável no trabalho com a literatura.

A escolha de um livro para a leitura de outrem é uma ação entre parceiros. De um lado, o conhecimento de acervos e a leitura prévia; de outros, interesses particulares e coletivos e histórias diferenciadas de leitores. O que confere importância humana à leitura é esse necessário congraçamento de vontades e saberes, de pensamento e ações, de silêncio e de falas, de perguntas e respostas, de singularidades e comunidades.

Como qualifica Eliana Yunes, trata-se de ação solitária e solidária. Num primeiro momento, o leitor indivíduo com seu amigo virtual, o livro. Encontro de esconderijos, de ambientes silenciosos, de olhar atento e concentrado. Em seguida, o compartilhamento, a troca, a amplitude.

No leitor, o conhecimento do processo, das intenções manifestas e ocultas, dos interesses de superfície e da verdade inconsciente, faz de sua formação uma tarefa complexa e desafiadora. Um texto de qualidade e significativo pode levar a uma leitura emancipatória. Embora mais freqüente seja a ocorrência do contrário: leitores desestimulados por não encontrar sentido no que lêem, e por não se encontrarem quando lêem. Como a vida, a leitura é também a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na leitura, parafraseando Vinícius de Moraes.

Para prevenir e, se possível, evitar os desencontros é que professores pedem auxílio na indicação de livros. O conselho primeiro é o de procurar entender, analisar, pesquisar o estágio de leitura dos alunos e, acima de tudo, que interesses e expectativas apresentam em relação aos escritos. Saber o que atrai sua atenção e que condições demonstram possuir para um desempenho eficiente como leitores é tarefa primeira. Indispensável. Muitas vezes, o professor indica (e até obriga a) leituras fora do contexto cultural de seus alunos, fora das águas em que navegam e se divertem e aprendem. A projeção da preferência dos adultos sobre crianças e jovens aumenta o abismo entre as gerações. Atender exclusivamente ao gosto infantil ou juvenil, porém, é incorrer em extremo oposto, e também negativo. Cumpre realizar uma tarefa investigatória antes de qualquer indicação. Pesquisar experiências anteriores, reações apresentadas, conversar com professores da turma em séries passadas permitem ter uma idéia mais aproximada do público leitor. Esse conhecimento abrandará as dificuldades.

Há o lado do professor-leitor que, obrigatoriamente, será acionado: seu conhecimento dos acervos de leitura, dentro e fora da escola, as leituras proveitosas que fez, as ações concretas e efetivas para a formação de leitores, a preparação de um amplo conjunto de técnicas de convencimento e de apresentação oral dos textos, o estímulo embutido no exemplo de um professor no momento em que lê um livro, tudo isso entra em conjunção com as respostas positivas dos alunos. E a leitura terá grande chance de sucesso.

Voltaremos ao assunto. 

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