Zupt!

E lá se foi a minha bolsa com todos os meus documentos. Verdade que era noite, mas eu estava bem perto de onde moro, que é o centro da cidade. Aquele moleque veio correndo feito um vento ruim, e arrancou a bolsa da minha mão. Fiquei inerte, sem ação.

Só me restou buscar refazer toda a documentação. Uma canseira. Hoje estou triste, e então, me bateu saudade daquela cidade pequena. De quando nos mudamos para a nova casa, lá na Rua da Paz. O calçamento da rua era bem recente, e minha filha Noemi, então com cinco ou seis anos, parada na calçada, olhando para a rua deserta, onde automóveis quase não passavam. Marli chorando, estranhando a casa nova.

Meses depois, novas casas e uma vizinhança com crianças veio trazer movimento e alvoroço naquela rua. Na Rua Ubaldino do Amaral, funcionava a Fábrica de Fitas Venske, que, com o tempo fechou as portas, e ali foi instalada a fornecedora de marmitas Ruwa, e em poucos anos também deixou de funcionar…

A família Murray havia presenteado a cidade com alguns terrenos naquela região. Por razões que agora não vêm ao caso, um dos terrenos que se localizava bem defronte à fábrica foi aproveitado para instalar a Casa do Expedicionário. Tempos depois, soubemos que podíamos nos associar à Casa do Expedicionário, com direito até a carteirinha, para assistir às seções de cinema. As seções eram bastante concorridas, a vizinhança comparecia com as crianças.

O monumento ao Expedicionário foi colocado só muito mais tarde, no topo da casa! Era tudo muito novo, excitante. Nós, as donas das casas, muitas vezes nos muníamos com vassouras e facas velhas para arrancar o matinho e varrer bem varridas as calçadas. Ali, as crianças brincavam e brigavam…

Não havia grandes preocupações quanto à segurança, verdade que às vezes aparecia algum descuidista, mas não era coisa para nos alarmar.

Os meninos daquela rua, Marcos, Roberto, Cléverson, Léo, Dídimo, àquela época, já adolescentes, perceberam um dia, que a Prefeitura havia colocado uma nova placa no muro da esquina com o nome de Rua Alfredo Venske. Por duas vezes colocadas e duas vezes as placas foram arrancadas e atiradas no meio da rua. E a rua até hoje é da Paz…

Os primeiros moradores da Rua da Paz já não residem ali.

Os anos passaram num zupt!

Margarita Wasserman – Escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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