Xuxa acerta em cheio em programa simples e curioso

Em Xuxa no Mundo da Imaginação, a apresentadora parece determinada a deixar para trás o estilo que marcou seus 15 anos de trabalho para o público infantil. A diferença fica clara já na abertura e nos cenários do programa, que têm como principal característica a simplicidade.

A temática educativa também é uma agradável surpresa, além da participação das crianças em boa parte dos 32 quadros do programa, que se alternam durante os dias da semana. Xuxa não pára de repetir que “a rainha do novo programa vai ser a criança”, numa alusão ao batido título de “Rainha dos Baixinhos”. Até agora, a promessa vem sendo cumprida. E a participação da garotada, tanto no estúdio quanto em vídeos, fotografias e desenhos enviados de casa, rende alguns dos melhores momentos da atração.

A apresentadora abriu mão dos cenários suntuosos, marcados por neon e brinquedos que mais lembravam um parque de diversões, e investiu num ambiente inspirado nos clássicos infantis, com castelo, livro de história, casinha de doces, flores e muitas nuvens. As poucas crianças que ocupam o estúdio interagem com o cenário e a apresentadora, não lembrando em nada a horda de pré-adolescentes histéricos que cultuavam a imagem de Xuxa em seus antigos programas.

Outra clara mudança, aliás, é a faixa etária do público-alvo. Apesar de anunciar que o programa é dedicado a crianças de zero a 10 anos, o endereço real são os “baixinhos” até os seis anos de idade. São eles as estrelas da maior parte dos quadros e os que mais têm a aprender com as brincadeiras que ensinam os primeiros números e letras do alfabeto ou conceitos como os de “perto” e “longe” ou “para frente” e “para trás”. Além disso, a repetição, recurso utilizado até a exaustão nos quadros mais especificamente educativos, deve afugentar a atenção dos mais velhos, acostumados ao ritmo frenético dos modernos desenhos animados ou jogos eletrônicos.

Dos 32 quadros do programa, alguns já dão mostras de que vieram para ficar. Em Quando Eu Crescer, as crianças conversam sobre profissões e uma delas grava um vídeo acompanhando profissionais da área à qual pretende se dedicar. Além de matar a curiosidade da criançada, o quadro é bem-produzido e muito atraente. Cantinho das Histórias dramatiza clássicos infantis com participações especiais, como as de Debby e Luciano Huck. Em Fabricando, é a própria criança quem, de sua casa, ensina atividades artesanais com matérias-primas ao alcance de qualquer um. Só falta tirar a “cara de cenário” que as casas das crianças têm mostrado.

Outro ponto marcado pelo programa é a participação dos espectadores, através de vídeos, desenhos e fotografias, que viram bem-cuidadas animações. Além de conquistar a fidelidade do público, que fica na expectativa de se ver no programa, o recurso investe numa falsa impressão de interatividade. E, o que é melhor, as crianças garantem atrações para lá de interessantes. Quer dizer, ao menos na perspectiva de um adulto.

De qualquer forma, Xuxa no Mundo da Imaginação traz auspiciosas novidades. Sobretudo em se tratando da apresentadora, que por anos seguidos incentivou o consumismo, a idolatria e a repetição acrítica no público infantil. Xuxa também se sai bem no comando do novo programa. A voz esganiçada e os gritos histéricos deram lugar a um tom mais sereno, e só aparecem no quadro Bruxa Keka, em que ela atua de modo insuportavelmente “over”. O quadro, aliás, é um dos mais chatos do programa. Mas a loirinha acerta nas dramatizações de Cantinho das Histórias e, sobretudo, na idéia de ceder espaço às crianças.

Afastada há dois anos do público infantil televisivo, a apresentadora parece manter intacto o carisma junto às crianças. Xuxa no Mundo da Imaginação estreou com média de 19 pontos de audiência, garantindo à Globo o primeiro lugar no Ibope, que vinha sendo abocanhado pelo Bom Dia & Cia., do SBT. E o estilo “Rainha dos Baixinhos”, pelo menos por enquanto, ainda não contagiou o programa, que não tem estrelismos, merchandising, ar infantilóide ou atrações idiotizantes.

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