Um século sem Cézanne, um gênio solitário

A National Gallery, de Washington, está apresentando uma megaexposição – 167 trabalhos – das obras de Paul Cézanne realizadas na Provence Francesa, onde ele nasceu, trabalhou e morreu. É quase um lugar comum dizer que Paul Cézanne (1839-1906) é o pai da pintura moderna. Trata-se de um exagero. Ele é o pai do Cubismo. Influenciou o Abstracionismo, ao ordenar os planos através dos volumes cromáticos. Deu sensações de densidade e peso nos objetos pela cor, com pinceladas lisas que recriavam a natureza dentro de um geometrismo. Unificando volume e espaço. Ou seja: desenhando com as cores.

Era um obcecado. Filho de um banqueiro, viveu entre sua Aix-en-Provence, tendo pintado 60 quadros sobre a mesma Montanha de Santa Vitória, de sua terra natal.

Arredio, esquizotímico, amigo de Émile Zola, discípulo de Coubert, dizia que o artista "é um mero gravador de percepções sensoriais" e que poderia revolucionar a pintura apenas com uma maçã. De fato, suas naturezas são grandiosas pela espontaneidade dos tons. Com o tempo, sua pintura foi sendo simplificada ao ponto de ser reduzida a limites geométricos, quase cubistas, conseguindo efeito de perspectiva apenas pelo uso da cor.

Paul Cézanne custou a ser reconhecido pelo grande mundo de Paris. Quase nada vendeu em vida. Mas um de seus tantos quadros sobre a Montanha de Santa Vitória foi vendido, recentemente, por mais de 30 milhões de dólares, no leilão da Casa Philips, nos Estados Unidos.

Em suas últimas obras, criou sistemas mais livres de pintar, anulando as três dimensões em telas planas, bidimensionais. Tentando uma arte sólida e duradoura, dizia que só às vésperas da morte conseguia deslumbrar a terra prometida. Mas se perguntando: por que tão tarde e com tanta dificuldade?

Como Van Gogh, sempre gostou de pintar ao ar livre, onde assombra com as contraposições da luz sobre o terreno. Foi de uma simplicidade encantadora, sincera, quase rude, aproximando-se até mesmo de arte primitiva.

Criticado pelos impressionistas, foi um dos poucos a elogiar a cor cinza, dizendo que era muito difícil de ser trabalhada, por sua dureza e quantidade de tons. Ao fim, a natureza que ele tanto amava se tornou um pretexto para jogos de linhas, chegando a afirmar que cores locais não existiam, pois todos os objetos se refletem mutuamente…

Pintou casas isoladas entre árvores, banhistas nas matas, naturezas mortas, estradas, sua Baía de Marselha, repetindo que o artista é um mero gravador de percepções sensoriais.

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