Toquinho, emocionado, faz show histórico

Antonio Pecci Filho foi surpreendido pela emoção quando entrou no camarim do Teatro Paiol. Com a reforma do teatro, o camarim foi decorado com fotos ampliadas de sua inauguração, em 1971. Ali, Antonio Pecci viu a si mesmo, 35 anos atrás, quando ainda era um jovem de bigode em início de carreira musical.

?Caramba, que loucura. Olha só ó Vinicius. Foi um grande show. Foi uma coisa marcante na minha vida?, disse Toquinho, quase 60 anos, na noite de terça-feira ao voltar ao Paiol para a reinauguração do teatro.

A emoção de Toquinho no camarim deu o tom do que seria o show. Visivelmente emocionado, intercalou as músicas com lembranças dos velhos tempos, da carreira com Vinicius e da convivência com Tom Jobim, João Gilberto e Paulinho Nogueira, entre outros.

?Lembro que o Vinicius me ligou e convidou para inaugurar um ?teatrinho? em Curitiba. Ele falou que era um antigo paiol de pólvora e já tinha rabiscado a letra de uma música em homenagem ao teatro?, disse Toquinho depois de abrir o show. ?Terminamos a música Paiol de pólvora no hotel em Curitiba. Era um momento de ditadura militar, então dava para explorar um pouco isso na música. Mas quando gravamos em disco, a letra foi censurada, só pôde entrar a melodia.? Toquinho confirmou que Vinicius batizou o Paiol com uísque. ?Ele jogou pelo teatro, como se estivesse abençoando.?

Toquinho canta Tarde em Itapuã e pára para falar mais um pouco. A noite tinha a voz e o violão perfeitos do ex-parceiro de Vinicius, mas o músico estava nostálgico, queria falar. E falou muito, para o deleite da platéia, que teve oportunidade de um raro momento para ouvir um grande artista contar causos, causos com ninguém menos que Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Antonio Maria.

?O Tom Jobim veio me falar, meio sem jeito, meio indignado: Pô, essa música, eu sei eu vou te amar, por toda minha vida eu sei que vou te amar (parceria de Tom e Vinicius)…
Aí eu disse, o que é que tem, a música é ótima? Eu sei a música é boa, diz Tom. Mas, eu sei que vou te amar, por toda minha vida eu sei que vou te amar. O que é que tem, pô?
Mas o cara já casou umas noves vezes, pô!

Então Toquinho, canta Eu sei que vou te amar, acompanhado de Vanda, única cantora de sua banda que veio para o show do Paiol. Toquinho conta depois que Vinicius implicava muito por Tom morar em Nova York (O Tom é um chato com essa história, dizia Vinicius). O poeta cobrava de Tom a volta para o Brasil, e Tom não se decidia: ?Bem, Nova York é bom, mas é uma m… O Rio é uma m…, mas é bom."

Toquinho conta também a história de quando Antonio Maria fingiu que era Vinicius para flertar com uma moça no avião. A cantada deu certo, como ele relata depois para o poeta, só que o desfecho da noite não foi o esperado. ?Vinicius, na hora h, você broxou?, conta Antonio Maria.

O som prossegue com homenagens a Paulinho Nogueira, Tom, João Gilberto. Que maravilha, Aquarela.  A música é ótima, mas as histórias são excelentes. O público aprecia a música, mas ansia também pelos intervalos. Toquinho então fala do pai, de 92 anos, que há tempo lhe pede que grave algumas músicas para ouvir em casa e o artista adia a empreitada. ?Meu pai me cobra: Pô, quando você pediu bicicleta, eu dei. Quando pediu bola de futebol, eu dei. Agora eu te peço uma gravação e você não faz?? Toquinho garantiu que iria fazer a gravação para o pai já nesta quarta-feira dia 8. Talvez a volta ao Paiol, a nostalgia, a visão das fotos de 35 anos atrás, todas essas emoções tenham provocado a decisão, para a sorte de seu Antonio.

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