Sucesso não balança Priscila Fantin

Os olhos puxados de Priscila Fantin não encantam apenas na tevê. Pessoalmente, são ainda mais expressivos. Mas a atriz causa mesmo espanto pela tranqüilidade com que encara sua fulminante carreira. Com 19 anos de idade e quatro de profissão, a intérprete da Maria de “Esperança” faz seu papel de maior destaque – o terceiro na tevê com performance elogiada. Mesmo assim, mantém o jeito simples e um desconcertante senso de realidade. “É uma carreira incerta. Hoje, posso estar na novela das oito e amanhã ficar desempregada”, pondera.

Mas nada diminui o prazer de interpretar. Uma descoberta gradual, feita a cada trabalho. Primeiro, com a romântica Tati, que marcou sua estréia como atriz, em “Malhação”. Depois, com a boa de briga Joana, de “As Filhas da Mãe”. Agora, com Maria que, nos próximos capítulos, volta à cena e revive a paixão por Toni, de Reynaldo Gianecchini.

Para compor uma jovem italiana da década de 30, Priscila assistiu a vários filmes da época sobre fascismo e a vida no campo. Mas acredita que a temporada que passou em Civita de Bagnoregio, na Itália, foi o grande “laboratório” para compor a personagem. Lá, a equipe gravou durante um mês os primeiros capítulos da novela. “Tocar na terra de Civita me transportou ao passado. Me ajudou a criar raízes”, conta a atriz, que deve o sobrenome Fantin à ascendência italiana. “Meus bisavós, tanto por parte de pai quanto de mãe, eram de lá”, valoriza.

Portuliano

De fato, Priscila não encontrou dificuldades com o “portuliano” adotado na novela. Fez curso básico de italiano quando adquiriu a dupla cidadania, aos 15 anos. Além disso, contou com as aulas para o núcleo imigrante. Mas teve de se adaptar às mudanças de última hora. “No início, era para ser tudo em italiano. Aí viram que ficaria incompreensível e optaram pelo português com sotaque”, revela a atriz, que diz não ligar para as críticas e a baixa audiência de “Esperança”, na casa dos 40 pontos. “Ibope é um mistério. A novela pode ser linda mas, de repente, as pessoas não querem ver uma história dos anos 30. Querem uma trama moderna, como ?O Clone?”, supõe.

Mas as preocupações de Priscila se concentram mesmo nas cenas dramáticas. Logo no primeiro capítulo, Maria perdeu a virgindade com Toni, numa seqüência com nudez parcial. “A direção foi cuidadosa e tinha pouca gente no set. Então, entreguei a Deus…”, revela. Outra cena difícil foi a do parto, em que Maria dá à luz o filho de Toni. Como Priscila ainda não passou pela experiência, resolveu consultar todas as mães que encontrava. De cada uma, ouvia um relato diferente. Por isso, resolveu ter o filho à sua maneira. “Foi minha cena mais forte e, no final, até a Fernanda Montenegro me elogiou”, conta, com um sorriso tímido.

Fulminante

O elogio da veterana parece maior quando comparado à trajetória da atriz. Afinal, Priscila nem mesmo pensava em seguir carreira artística quando faturou a protagonista de “Malhação”, em 1999. Passou um ano e meio no “folheteen” – e ainda em dúvida se queria seguir carreira. No ano passado, aprendeu luta livre para viver a determinada Joana de “As Filhas da Mãe”. Ao fim da novela, já estava certa da vocação e pronta para filmar o longa “1972”, de José Milli Rondon. Mas foi surpreendida com o convite para “Esperança”. “O diretor Luiz Fernando Carvalho queria exclusividade. Pesei os prós e contras, as conseqüências… E me decidi pela novela. Sou contratada da casa”, resigna-se, ciente da nova política da emissora de suspender o salário de quem recusa papéis.

Ao contrário da maioria dos atores que estréia no horário das oito, Priscila garante que o assédio nas ruas não cresceu com a novela. Apenas modificou-se. Antes, Priscila era musa do público adolescente, que assiste “Malhação”. Sobreviveu a vários ataques de histeria coletiva de fãs em shoppings e horários de saída de colégio. Atualmente, desfruta da boa educação de um público mais maduro. “Não gosto de chamar atenção. Mas agora acho o máximo quando uma pessoa vem falar comigo, segura na minha mão, olha nos meus olhos e comenta meu trabalho”, compara.

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