Sob o fascínio da arte

Desde que recebeu o convite para integrar o elenco da minissérie Um só Coração, Edson Celulari passou a se comportar praticamente como um biógrafo de Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccilo. O ator repete com visível admiração uma série de histórias sobre o famoso industrial, fundador do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

E mesmo depois de terminada a longa e ansiosa espera para começar a dar vida ao personagem, Edson pretende continuar “procurando” Ciccilo. “Qual artista não gostaria de encontrar um cara desses pela frente? Como produtor teatral, eu vivo buscando ‘Ciccilos’ por aí”, brinca o ator, que já tirou dinheiro do próprio bolso para viabilizar produções de espetáculos caros, como Calígula, de Albert Camus, ou Don Juan.

Não por acaso, a atuação do industrial no incentivo às artes é a faceta do personagem que mais atrai Edson. O ator faz questão de dizer que leu depoimentos nos quais diversos artistas destacam não apenas o apoio financeiro do mecenas, mas sobretudo seu perfil de realizador e amante das artes. “Ao lado dele, as pessoas se sentiam encorajadas a arriscar”, encanta-se Edson, com indisfarçável empolgação.

Com um currículo repleto de galãs, Edson está adorando a oportunidade de mexer no visual. Por conta dele, esconde os famosos olhos azuis atrás de lentes escuras e raspa diariamente os cabelos do alto da testa. “As pessoas dizem que é coragem a gente se transformar em função de um papel. Mas o que é o ator senão alguém que serve ao personagem?”, minimiza. Bem-humorado, Edson até se diverte com os comentários sobre as mudanças. Sobretudo os da família, outra de suas evidentes e mais declaradas paixões. “Sempre que vou sair de casa, o Enzo pergunta: ‘Papai, não vai levar um boné?,” entrega, abrindo um largo e orgulhoso sorriso.

Vasta galeria

Aos 46 anos e com 26 anos de carreira na tevê, Edson Celulari escolhe sem pestanejar seus personagens favoritos. Em primeiro lugar está o impagável Vadinho, de Dona Flor e Seus Dois Maridos, um malandro bem diferente de tantos “maridos ideais” aos quais deu vida. “Era um personagem difícil. Além disso, ficava muito exposto, nu o tempo inteiro”, lembra Edson. Boas lembranças ele guarda também do Jean-Pierre de Que Rei Sou Eu? e de Flamel, de Fera Ferida.

Casado com a atriz Cláudia Raia e pai de Enzo, de sete anos, e Sophia, de um, Edson Celulari aproveita todas as oportunidades para falar da família. Em poucos minutos de conversa, ele inevitavelmente pergunta: “Você tem filhos?”. E emenda uma série de orgulhosos relatos das artimanhas de suas “crias”. A empolgação com a paternidade é tão grande que Edson garante que mudou até sua relação com o trabalho depois de ser pai. “Dá sorte, força, estímulo, gana para correr atrás e realizar as coisas, por você e por eles, para deixar algo de que possam se orgulhar”, enumera, satisfeito.

Até mesmo na hora de falar de Ciccilo o assunto vem à tona. Emocionado, Edson relata uma entrevista do industrial, gravada dois anos antes de sua morte. Em determinado momento, o jornalista pergunta se há alguma coisa que ele gostaria de ter feito e não fez. “Ele pensa um pouquinho e fala: ‘As crianças. Talvez eu quisesse ter feito mais coisas pelas crianças’. Você percebe que ele tem algo engasgado, que é o fato de não ter tido filhos”, narra Edson, utilizando o sotaque que dá ao personagem na minissérie para reproduzir a voz de Ciccilo.

Em casa, o ator faz questão de ensinar a importância de fazer o que gosta. Exatamente o critério que utiliza para escolher cada um de seus personagens. “Sempre digo: ‘Papai vai trabalhar porque precisa ganhar dinheiro, mas principalmente porque o trabalho faz o papai feliz'”, conta, para logo em seguida completar: “Se não estiver feliz, não vou ser um bom pai para eles”.

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