Rosto de boneca e beleza atemporal

Jorge Rodrigues Jorge / Carta Z Notícias
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Ana Paula Arósio:
trabalho de época.

O rosto de traços irretocáveis de Ana Paula Arósio faz lembrar o das bonecas de biscuit, dessas que se encontram em brechós e antiquários. Talvez por isso, aos 29 anos, a atriz seja convidada apenas para fazer trabalhos de época. Desde que estreou na tevê em 1994, como a Amanda de "Éramos Seis", no SBT, ela já deu vida a uma aristocrata portuguesa do século XIX em "Os Maias", a uma imigrante italiana do início do século XX em "Terra Nostra" e a uma socialite que virou prostituta na Belo Horizonte dos anos 50 em "Hilda Furacão".

Em "Mad Maria", ela volta mais uma vez no tempo para interpretar Consuelo, uma pianista boliviana que sofre um naufrágio no Rio Madeira e vai parar no acampamento da Madeira Mamoré. "Não faço distinção de papéis. Gosto é de fazer bons trabalhos. Coincidência ou não, os bons trabalhos que têm aparecido são todos de época", justifica.

Para gravar a minissérie, Ana Paula passou 50 dias em Rondônia. Na bagagem, repelentes, mosquiteiros, roupas com manga comprida e a inseparável coleção de CDs. "Ouço música 24 horas por dia. Gosto de clássico, pop, rock, techno… É difícil não gostar de alguma coisa…", garante.

Por isso mesmo, ela adorou a idéia de voltar a estudar piano para a minissérie. Mas, ao contrário do que aconteceu em "Esperança", em que Camille eventualmente sentava-se ao piano, Consuelo é uma profissional. "Em algumas cenas, até toco de verdade. Mas não vou dar nenhum recital na minissérie…", previne, bem-humorada.

Em "Mad Maria", Ana Paula volta também a trabalhar com Benedito Ruy Barbosa, de quem já fez a bem-sucedida "Terra Nostra", em 1999, e a malograda "Esperança", em 2002. "Esperança foi uma novela difícil, do começo ao fim", limita-se a dizer. Quando recebeu o convite do autor a quem chama carinhosamente de "Bené" para gravar na Amazônia, ficou na dúvida sobre quem seria o mais maluco. "Se ele, por me fazer o convite, ou eu, por aceitá-lo. Acho que juntou a maluquice dos dois", diverte-se ela, abrindo o seu indefectível sorriso de boneca de porcelana.

Arrancando suspiros pelo mundo

Desde que resolveu seguir a carreira de modelo aos 12 anos, "para comprar uma bicicleta motorizada", Ana Paula Arósio se habituou a arrancar suspiros de marmanjos do mundo inteiro. Há muitos anos, no Japão, ela foi abordada em praça pública por um sheik árabe. Deslumbrado com a beleza da moça, o milionário saudita perguntou a dona Claudete quanto custaria para ele comprar a sua filha. Ana Paula só se deu conta de que não se tratava de apenas mais uma cantada quando o homem já havia aumentado a oferta inicial em alguns milhares de barris de petróleo. "Minha mãe ganhou muitos cabelos brancos por minha causa", brinca. A dona-de-casa Claudete Aparecida Arósio, aliás, sabe o trabalho que dá criar uma filha tão bonita. Certa vez, ouviu um empresário paulistano oferecer a ela uma fazenda em troca de uma noite com sua filha. Anos depois, outro admirador parou o já caótico trânsito de São Paulo para entregar um buquê de flores para a moça. E houve ainda aquele que estacionou um caminhão em frente à casa da atriz no bairro de Interlagos, em São Paulo, onde ela morava com os pais, com um singelo cavalo manga-larga de presente. "Minha mãe penou para convencer o rapaz de que o quintal da nossa casa era pequeno demais para o animal", diverte-se.

Carreira que começou por acaso

A carreira de modelo de Ana Paula Arósio começou por acaso. Aos 14 anos, ela foi descoberta pelo dono de uma agência em um supermercado de São Paulo. Desde então, já emprestou seus belos olhos azuis a revistas e outdoors do mundo inteiro. Em 93, ela foi convidada pela Globo para protagonizar "Sex Appeal", mas recusou o convite por não poder se mudar para o Rio. No ano seguinte, o então diretor de teledramaturgia do SBT, Nilton Travesso, cortejou a moça para fazer uma participação em "Éramos Seis". Já contratada da emissora, fez cursos de interpretação e mais duas novelas: um papel de destaque em "Razão de Viver" e a protagonista de "Os Ossos do Barão". "Naquela época, não tinha a menor noção do que era ser atriz", confessa ela.

Mas a grande virada na carreira de Ana Paula aconteceu em outubro de 97, quando ela soube que estava sendo cobiçada pelo diretor Wolf Maya para protagonizar "Hilda Furacão", na Globo. Durante as negociações entre Globo e SBT, Wolf chegou a cogitar os nomes de Cláudia Abreu e Mylla Christie para o papel da famosa prostituta mineira. Mas, num acordo inédito entre duas emissoras, Ana Paula foi emprestada à Globo por três meses. Ao término deste período, teve de retornar ao SBT e gravar quatro teleteatros: "A Estrangeira", "Tudo por um Colar", "O Perdão" e "O Pecado de Amar". Na época, não poupou críticas ao texto da autora argentina Marisa Garrido. "Tudo era muito óbvio. Já não tinha mais motivação", desabafa.

Desde que fez "Hilda Furacão", Ana Paula tornou-se uma das atrizes mais promissoras do País. Na Globo, tem tentado provar que talento e beleza são virtudes conciliáveis. "Na minha profissão, as pessoas muito bonitas acabam tendo de trabalhar o dobro para provarem que têm talento", ressalta. Paralelamente ao papel de heroína em "Terra Nostra" e "Esperança", ela também exercita seu potencial dramático em tipos mais alternativos e de difícil composição, como uma transexual no episódio "Menino ou Menina?", do "Mulher", ou uma assassina em "Amor ou Justiça", do "Você Decide". "Sempre achei um saco esse rótulo de menina bonitinha. A única forma de escapar disso foi interpretar personagens fortes", acredita.

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