‘Rio, Eu Te amo’ traz unidade na diversidade

A caminho das entrevistas de Rio, Eu Te Amo – no Rio, claro -, o repórter testemunhou, no aeroporto, um bate-boca que ilustra a tradicional rivalidade entre cariocas e paulistas. Uma atendente e um passageiro discutiam em torno de nada (tudo?). Talvez seja difícil convencer muitos paulistas a assistirem a um filme que é um canto de amor à cidade chamada de ‘maravilhosa’. Mas valerá a pena. Embora irregular, como todo filme em episódios, Rio, Eu Te Amo tem uma característica única no gênero, e que ajuda a nivelar o resultado.

Desde o início, os sócios Leo Barros e Pedro Buarque de Hollanda, da Conspiração Filmes, que estiveram à frente da produção, quiseram que o terceiro exemplar da franquia Cities of Love – idealizada por Emmanuel Benbahy e que já contemplou Paris e Nova York – tivesse uma unidade. Vicente Amorim foi chamado para fazer as ligações e criou personagens – Cláudia Abreu e o taxista Michel Melamed – que só aparecem nas transições. Em alguns esquetes – o do Pão de Açúcar -, a paisagem é muito forte. O Cristo Redentor, o Teatro Municipal, a calçada de Copacabana fazem parte do imaginário do público, e não apenas brasileiro. Outros cenários são mais difíceis de identificar – Paquetá, no de John Turturro, a praia brava em que Paolo Sorrentino situou sua trama de assassinato. A apoteose da escola de samba na favela tomada por vampiros não poderia ser mais carioca. O coreano Im Sang-soo entendeu o Rio.

Desde o início, a proposta era permitir que diferentes diretores – brasileiros e internacionais – colocassem na tela diferentes olhares sobre o Rio. A diversidade dá o tom, mesmo que o conceito também privilegiasse a tentativa de criar uma unidade. Marcelo Serrado brincou na coletiva. Depois de Crô, “estou me especializando em fazer gays”. Em Acho que Estou Apaixonado, o diretor Stephen Elliott, de Priscilla, a Rainha do Deserto, reconstitui uma história real (dele).

Como turista no Rio, Elliott saiu do armário envolvendo-se com o guia/motorista que o acompanhou na escalada do Sugar Loaf. Além de Serrado, o filme tem um dos vampiros de True Blood, Ryan Kwanten, como o gringo. Bebel Gilberto faz o Cupido mais GLS que já houve na tela.

Andrucha Waddington escreveu Dona Fulana para a sogra, e Fernanda Montenegro faz avó libertária, que largou tudo, foi morar na rua e agora encontra o neto. O diretor prescindiu do cartão-postal. “Minha história não pedia isso.” O mexicano Guillermo Arriaga mistura proposta indecente, amputação e lutas ilegais em Texas.

É o esquete mais noir. Prescinde de diálogos e constrói-se no olhar dos atores (Land Vieira e Laura Neiva) – muito bom. José Padilha, em Inútil Paisagem, põe Wagner Moura numa discussão com o Cristo, e, por conta disso, o filme quase foi renegado pela Igreja. A melhor história? O Milagre, de Nadine Labaki. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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