‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’ estreia em São Paulo

Drama. Comédia. Tragédia. Não é fácil achar um consenso quando se trata de classificar Quem Tem Medo de Virginia Woolf?. Na mais conhecida obra do norte-americano Edward Albee, todos os gêneros se confundem. “O próprio autor dizia que gostaria de ver o público assistindo a peça uivando de rir, mas sentindo dor”, lembra o diretor Victor Garcia Peralta.

No espetáculo, que estreou no Rio em 2013 e chega nesta sexta-feira, 25, a São Paulo, Zezé Polessa e Daniel Dantas encarnam um casal que não hesita em expor, diante de estranhos, a teia de ódio e ressentimentos na qual está enredado. “Eles são muito teatrais. Usam um casal mais jovem que apareceu para poder representar o seu jogo”, considera a atriz.

Dentro do campus de uma universidade americana, vivem Jorge, um professor de história, e Marta, a filha do reitor. Uma noite, eles recebem em casa os jovens Nick (Erom Cordeiro) e Mel (Ana Kutner). Eis o cenário perfeito para que comecem a trocar ofensas. E também a destruir a aparente harmonia que existe entre o casal convidado.

Um dado biográfico contribuiu para construir as interpretações dos protagonistas. Separados há alguns anos, eles já foram casados na vida real. “E essa intimidade prévia nos ajudou muito. Brigar, por exemplo, era muito fácil para nós”, crê Daniel. Na versão cinematográfica de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, lançada em 1966, os atores Elizabeth Taylor e Richard Burton também eram casados.

O que parece uma simples briga conjugal vai ganhando camadas à medida que o enredo avança. Segredos são revelados. A máscara de inocência dos mais jovens mostra-se pura hipocrisia. O sentimento amoroso perde sua aura de pureza para surgir como uma força destrutiva e impiedosa.

A personagem de Zezé Polessa não tem pruridos em humilhar o marido. Insinua-se para o estranho que está em casa e, por fim, termina por revelar um dado de suas biografias que permanecia intocado. A vingança de Jorge não será branda.

Ao público, é permitido assistir a essa “carnificina” íntima tal qual um voyeur. A cenografia de Gringo Cardia ambienta a sala da casa dos anfitriões em um palco giratório. “Minha ideia era que os espectadores se sentissem observando as cenas pelo buraco da fechadura”, diz o encenador.

Vigilante

Mesmo aos 86 anos, o afamado dramaturgo mantém-se ativo e zeloso de seu legado. Foram três anos de negociações para conseguir os direitos da peça. Objeto de uma série de montagens, no Brasil e no exterior, o texto foi escrito em 1962, mas continua a chocar pela virulência de seus diálogos e pela violência das situações apresentadas.

Para a atual montagem, o título mereceu uma nova tradução. “Muito coloquiais, os

diálogos perdem a atualidade com o tempo, por melhor que seja a tradução”, comenta João Fonseca Dantas, filho de Zezé e Daniel, que assinou a versão para o português.

Mas a tradução renovada não resultou em adaptação e a trama continua a se passar nos anos 1960. “Não gosto dessas atualizações sem propósito. Procurei uma neutralidade”, argumenta o diretor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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