Profissionais que trabalham em horários pouco convencionais

Jornada de trabalho com hora para terminar é coisa rara na tevê. As gravações costumam se estender mais que o imaginado e imprevistos sempre acontecem. Mas há uma turma que até consegue ter rotina só que com horários bem estranhos. São apresentadores de programas ao vivo que vão ao ar no começo do dia ou madrugada adentro. Gente que começa a trabalhar às 5h15, como Renato Machado, do Bom Dia Brasil, da Globo, ou que não vai dormir antes das 4h, como Roberto Cabrini, do Jornal da Noite, da Band. A jornalista Ana Paula Padrão decidiu deixar o time em maio, ao trocar o Jornal da Globo pelo SBT. Depois de cinco anos, Ana Paula não suportava mais o horário de trabalho, das 15h às 2h. "Queria uma vida normal, jantar com meu marido. Há dois anos tentava engravidar e precisei mudar minha rotina", justifica a jornalista.

Maria Cristina Poli sabe o que é isso. Hoje repórter especial da Globo e apresentadora do Gente Pop, do GNT, ela passou a gravidez no comando do Jornal da Noite, da Band. Mas não voltou depois da licença-maternidade. "Se você dorme às 3 da manhã, não vê seu filho. Além disso, é um horário que combina com o relaxamento, e não com a tensão do fechamento de um jornal", avalia. O problema de Marcos Hummel é o oposto. Para apresentar o Fala Brasil, da Record, às 7h45, ele acorda às 4h30. Não pode ir dormir depois das 10 da noite. "Vivo em dieta social", brinca Marcos, que acha graça de quem diz que o horário é bom porque ele pode aproveitar o dia. "Aproveitar para quê? Para ficar com sono na hora errada?", questiona.

 Como tem de estar com a cara boa no vídeo, como ele mesmo diz, Hummel não participa da preparação do telejornal desde o início quando ele chega, às 5h45, 70% do jornal já está pronto. A falta de tempo é a principal queixa de Janine Borba, colega do jornalista na bancada do Fala Brasil. É uma correria. Meu marido ri quando digo que cinco minutos é muito tempo, mas dá para gravar dois ‘offs’, pondera Janine. Para Hermano Henning, do Jornal do SBT, ter o dia inteiro para preparar o telejornal é mesmo a grande vantagem de entrar no ar por volta da 0h30. Metódico, o jornalista costuma deixar a emissora às 2 da manhã e vai comer um sanduíche sempre no mesmo restaurante. Todos já sabem a hora que chego e o que vou comer. É bom porque fica aberto até tarde e já tenho amigos lá, conta Hermano, que acorda às 10 da manhã e não dispensa uma corrida antes de se dirigir a outro restaurante, onde encontra os dois filhos, também jornalistas, e passa a tarde lendo os jornais do dia.

 A rotina disciplinada, aliás, é uma das condições para sobreviver a estes horários pouco convencionais. De pé às 4h45, Renato Machado pára de atender telefonemas às 19h30, vai para o quarto às 20h e, às 21h, já está tentando dormir. Nem sempre consigo, ressalta ele, para quem o mais doloroso é perder belos vinhos e bons concertos durante a semana. Viviane Romanelli, que acorda às 5h45 para apresentar o Dia Dia, da Band, não passa das 10 da noite. Depois disso, começo a chamar urubu de meu louro, brinca. Com Ana Maria Braga a história é parecida. A apresentadora diz que vira abóbora depois das 11 da noite. Ela tem de se levantar às 5h30, mas não se lamenta. "É uma opção. Não se pode ter tudo. É como ter um namorado rico, bonito, inteligente e apaixonado por você: impossível", compara.

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