Popstars, na voz da emoção

Mais que um programa musical, “Popstars”, do SBT, poderia ser classificado como uma espécie de documentário sobre a trajetória de artistas iniciantes em busca da fama. Como na primeira edição, que lançou o grupo Rouge, a história dos candidatos é a grande atração do programa.

E pode até explicar, em parte, a histeria dos milhares de adolescentes que lotaram os primeiros shows das meninas e compraram mais de um milhão de cópias de seu CD de lançamento. Apenas em parte, porque a audiência não chega a ser um fenômeno. Na primeira versão, foram 14 pontos de média. Enfrentando a complicada herança do “reality-show” “O Conquistador do Fim do Mundo”, que fez a média do horário despencar para os 5 pontos, a versão masculina de “Popstars” vem marcando 10, mas já registrou picos de até 14.

A edição do programa faz questão de promover a identificação do público com os concorrentes, mesmo nas primeiras etapas da seleção, quando é praticamente impossível registrar o nome, o rosto ou um detalhe da história de qualquer um deles. E é justamente este fato que faz de “Popstars” bem mais que um ensaiado e frio desfile de extensões vocais, a exemplo do que acontecia no “Fama”, exibido pela Globo. Talvez até pela falta desta ligação emocional o programa da emissora de Roberto Marinho não tenha emplacado sequer um dos talentos das duas edições, mesmo com mais audiência e a massificante presença em todos os programas da casa.

Emocionante

Emoção é o que não falta em “Popstars”. E as doses vão aumentando à medida em que o processo avança. Não só porque o público passa a identificar os “personagens” com o passar do tempo e a diminuição do número de concorrentes, mas principalmente pelos próprios candidatos. Quanto mais perto da final, mais os momentos frente aos jurados soam únicos e decisivos. E é justamente neste “tête-à-tête” que surgem os grandes trunfos do programa. São pequenos rituais, gestos que denotam o nervosismo disfarçado, reações de alegria ou tristeza, brincadeiras que escondem o medo. Para bons observadores, o show vai muito além das vozes ou dos passos ensaiados. E ganha força na improvisação, quando os candidatos saem do “script” que criaram para si próprios.

Nesse sentido, é fundamental a participação dos jurados. Escolados pela primeira edição do programa, Rick Bonadio, Iara Negrete e Alexandre Schiavo estão mais soltos e conduzem as avaliações com boas doses de descontração e naturalidade. A ponto de abrirem espaço para momentos curiosos, como o ocorrido durante os testes de voz, na terceira eliminatória. Depois de mencionarem o fato, destacado na ficha de um dos candidatos, de que ele era um bom imitador, os três assistiram aos risos a uma bela imitação do apresentador Sílvio Santos. Na ficha de outro, constava como defeito que ele tinha “pavio curto”. Os jurados não resistiram a um “teste”. “Em 12 anos de trabalho, você tem a pior voz que eu já ouvi”, detonou Alexandre. Depois de um minuto de hesitação, o candidato riu e soltou um: “Então, vou voltar para Nova Iguaçu”. Novas gargalhadas e o anúncio de que ele tinha sido aprovado para a próxima etapa.

Limite

Pela história dos próprios candidatos e pela atuação dos jurados no momento da avaliação, o programa já garante boas possibilidades de identificação com o público. Mas a intenção de que ela se concretize é tão grande que o sentimentalismo às vezes passa dos limites. Seriam completamente dispensáveis, por exemplo, as referências ao nervosismo, ao choro ou às explosões de alegria dos candidatos na locução do programa. A emoção real do candidato chega com muito mais contundência ao espectador que a forçada descrição pelo locutor. Da mesma forma, o roteiro dos jurados não deveria forçar a exploração de temas como a dificuldade dos candidatos em chegar a São Paulo para os testes ou o fato de muitos estarem dormindo nas ruas. A fórmula do acompanhamento da seleção é, por si só, suficiente para atrair e comover o público. Por isso mesmo, a edição do programa poderia perfeitamente abrir mão da dose extra de “apelação”.

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