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Peça ‘Pobre Super-Homem’, de Brad Fraser, discute sexualidade e preconceito

Quando em 1994 o autor canadense Brad Fraser enfrentou dificuldades para estrear a montagem de sua peça Pobre Super-homem, ele não teve dúvidas em encontrar uma resposta para a forte reação a seu trabalho: homofobia. Naqueles meados dos anos 1990 que foram testemunhas da avassaladora epidemia de aids da década anterior, foi considerada controversa a história de um artista plástico gay que vai trabalhar como garçom para se livrar de uma crise criativa e se apaixona pelo dono do restaurante – heterossexual e casado -, tendo a figura do homem de aço dos quadrinhos como metáfora da epidemia do vírus HIV.

Por aqui, após avanços e retrocessos entre a comunidade LGBTTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais), discussões sobre orientação sexual, identidade de gênero, transfobia e aids ainda são pertinentes. E é esse debate que pretende trazer à tona a montagem de Pobre Super-Homem – Avesso do Herói, do grupo carioca Cia. Banquete Cultural, que estreia nesta quinta-feira, 1º , no Centro Compartilhado de Criação (CCC).

“Esses temas continuam atuais, mas cada vez mais pessoas passam a entender e a vencer seus próprios preconceitos. O desafio foi falar de tudo isso de uma forma leve, poética, artística, que gere aproximação do público ao espetáculo e uma reflexão, e não apenas polemize o assunto”, diz o diretor Jean Mendonça, que também já dirigiu outro texto do dramaturgo, Amor e Restos Humanos, que teve curta temporada em São Paulo no ano passado.

Ao assumir o posto de garçom, David, interpretado pelo ator Fernando Benicchio, conquista a simpatia do chefe, Matt (Rodrigo Schorts), e a desconfiança da mulher dele, Violet (Keila Ribeiro), formando-se aí um triângulo que desfaz a aparência de felicidade do casal. No entorno de David ainda estão Kryla – papel de Luiza Lio -, uma jornalista frustrada por relacionamentos que não dão certo, e a transexual Shannon (Ricardo Almeida), que sonha em fazer a cirurgia de mudança de sexo, mas é desaconselhada pelos médicos, por conta do vírus HIV.

No processo de pesquisa, o diretor inseriu referências da obra de Caio Fernando Abreu (1948-1996), que como Fraser tem uma maneira peculiar de tratar a sexualidade em seus escritos. A personagem Violet, por exemplo, cresce na trama com falas inspiradas em contos de Caio F.

Foi também nesta fase que o diretor incorporou o subtítulo ao nome da peça. “Ficou claro que ali não existia um protagonista herói, mas o avesso dele, o ser humano em sua essência.”

Além do quinteto original, o diretor incluiu a figura do coro – formado pelos atores Danilo Miniquelli, Filipe Miller, João Chianello, Renata Peron e Victor Hugo Barbosa -, que, tal qual no teatro clássico grego, serve para revelar as reais intenções dos personagens. A ideia ainda incrementou um elemento que, por contrato, tem de ser mantido em todas as produções de Pobre Super-Homem: a legenda (outra referência do autor canadense ao universo dos quadrinhos). “Tinha uma voz ali, latente, dizendo, contradizendo as personagens. Elas pediram pra nascer neste processo.” E o personagem Corifeu (Miniquelli) surge, explica o diretor, para “religar” as histórias cruzadas.

Pobre Super-Homem – Avesso do Herói. Centro Compartilhado de Criação (CCC). R. James Holland, 57 – Barra Funda. 3392-7485

Estreia quinta. Até 18/12. Quintas e sextas: 21h; Sábados: 20h30; Domingo: 19h. R$ 30

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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