Pato Fu volta após três anos de hibernação

d12.jpgDepois de hibernar durante dois anos para pensar na vida e pela licença maternidade de Fernanda Takai, mãe de Nina, 18 meses, dela com John Ulhoa, líder da banda, os mineiros do Pato Fu voltam à estrada com disco novo,Toda cura para todo mal, site novo e um lance inédito em nível nacional (acho): clipes de todas as faixas do disco com possível lançamento em DVD. Tudo bancado pela própria banda que lança pelo selo Rotomusic com distribuição da Sony/BMG.

Rio (AG) – Numa entrevista de Belzonte pelo telefone, John conta como produziu, tocou e compôs o disco, elaborado no estúdio caseiro dele ao longo do retiro da banda. Ele aproveitou o tempo para produzir o disco Let it bed, do mutante Arnaldo Baptista, e fez trilhas para o canal de desenhos animados da MTV Nickelodeon. O baixista Ricardo Koctus se divertiu numa banda de covers de Elvis Presley e o baterista Xande saiu batendo pelaí até em bandas de jazz, que gosta muito.

d13.jpgFernanda, obviamente, ficou corujando a filha junto com John. Este é o primeiro disco de carreira com o novo integrante, o tecladista Lulu Camargo, incorporado após o MTV ao vivo no Museu de Arte da Pampulha (2002) para facilitar a vida de John e libertar a banda um pouco, mas nem tanto assim, das programações nos shows.

"A excursão ao vivo não durou muito por causa da licença maternidade. Daí fiquei também fazendo o processo de composição e gravação porque sempre começo um disco assim que acaba o outro, mas o processo mesmo levou uns quatro meses", conta Mr Ulhoa.

Ele diz que o método Pato Fu de gravar é de laboratório, "fazer jam session diante do computador" com muita pesquisa de sons e timbres. Uma característica deles é a manipulação de vozes, usada direto no disco.

"Eu não tenho reverência por nada, se manipulo guitarra, bateria e teclados porque não fazer o mesmo com a voz. Na instrumental !, deste disco, eu manipulo um som de platéia. Peguei os gritos das pessoas e modulei", conta, num efeito que lembra às vezes uma turbina de jato ou scratches.

Essa mania não é de hoje, basta lembrar o Capetão (CD Tem mas acabou, de 1996) com a voz de Fernanda transformada num grave gutural. Aqui, John canta duas músicas com voz de robô, Simplicidade e Estudar pra quê?

"Simplicidade é uma toada caipira com instrumentação cibernética. Estava com a voz normal, mas achei que faltava uma cerejinha, aí decidi "entortar" minha voz", diz. É uma das melhores faixas do CD, fica entre uma melodia infantil, com som de pianinho de brinquedo, sanfona, uma ambiência sonora meio etérea. Belo trabalho de engenharia sonora.

Estudar pra quê?, com uma levada rock que John chama de "arranjo burro na base do um por um", é uma provocação com o sistema de ensino em duas estrofes: "Quem mexe com internet/ Fica bom em quase tudo/ Quem tem computador/ Não precisa de estudo/ Estudar pra quê?/ Quem mexe com internet/ Fica rico sem sair de casa/ Quem tem computador/ Não precisa de mais nada/ Estudar pra quê?"

"É uma constatação do tipo de comportamento da galerinha que vive em frente ao computador. Não sei se o academicismo está pronto para receber essa galera e se essa galera está pronta para o academicismo. Não sei como vai ser quando a universidade tiver que receber esse pessoal. Quem está falando não sou eu, faço um personagem", explica. Com a palavra os cadernos de educação.

O nome do disco sai da canção Uh uh uh, la la la, ié ié!, um standard Fu, que John diz amarrar um conceito reincidente de grandes contrastes sonoros.

"A gente tenta fazer de tudo. O título também faz parte da cultura de títulos misteriosos ou provocativos, quem sabe pedantes" confunde John, que dá um longo suspiro ao ser perguntado sobre uma crítica recorrente, já aplicada ao atual disco, que os alia aos Mutantes, a maior banda brasileira de todos os tempos (ele não disse isso). "Fazer o que né cara? Muitas bandas têm essa coisa de um espírito rock?n?roll dos anos 60 e 70 como os Mutantes tinham, misturado com tropicalismo.

Banda portuguesa é considerada como irmã

"O Pato Fu só pode existir depois do punk, da new wave. A nossa banda não tem swing, para conseguir tem que se esmerar muito. Uh uh uh, la la la, ié ié! é o máximo que a gente consegue e foi preciso um grande empenho." A canção Boa noite Brasil conta com a participação da vocalista da banda portuguesa Clã, Manuela Azevedo. "Há uns quatro anos um jornalista português nos apresentou a banda dizendo que era parecida com a nossa. Tinha até uma vocalista com o timbre parecido com o da Fernanda.

"Fomos a Portugal, conhecemos eles e gostamos muito, ficou sendo uma espécie de banda irmã da gente, uma espécie de Fu Fu Clã. Por coincidência, a Manuela estava grávida e a Fernanda também, eu fiz letras para eles e agora ela canta num disco da gente. Foi tudo feito pela internet."

Como todas as bandas, o Pato Fu tem uma sensação de perda com boas canções de seus discos que não mereceram divulgação pelo rádio por não serem "músicas de trabalho", uma praga que limita a divulgação dos CDs, porque é a faixa que as gravadora$ dão força para as rádios tocarem, se é que vocês me entendem. John não gosta dessa instituição, mas como não dá para evitar as regras do jogo, existe uma música de trabalho, Anormal, e duas outras correndo em paralelo, Uh uh uh, la la la, ié ié! e a standard Fu Agridoce, que eles resolveram identificar com Roberto e Erasmo Carlos. É breguinha, com Fernanda naquela voz sofridinha que ela faz tão bem para uma letra bem triste que bate na testa de quem ama em vão.

Anormal tem uma levada suave em midtempo com Fernanda levando melodiosamente a letra sobre a fixação de uma pessoa que vê a que ama em todo lugar, escolhe o mesmo sabor que a pessoa gosta, etc.

"Gosto de falar na primeira pessoa coisas que outros não falariam normalmente. Gosto de chamar a mim mesmo de anormal, mais do que chamar os outros", diz John, autor da música.

Já que o casal Fu está em plena lua-de-mel da paternidade, a música Amendoim fala em "bebês que nascem para dividir meia vida" com os pais. O refrão é grudento, daqueles que perturbam a cabeça da gente, apesar de inteligente e engraçado.

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