Para recuperar a audiência novela perde o rumo

“Coração de Estudante” recuperou o trilho da audiência, mas perdeu o tom. Para voltar a casa dos 30 pontos -almejada pela emissora para o horário das sete -, a novela de Emanuel Jacobina sofreu reajustes. Antes, a história pecava pelo excesso de bom-mocismo do casal protagonista e na falta de novidades, mas ao menos permanecia coerente com o estilo do autor. Agora, deixou de lado a temática ecológica e a vocação romântica para balançar entre o drama e a comédia. Conclusão: não faz rir nem chorar. Apenas – e mesmo assim só de vez em quando – distrai.

A mudança de rumo começou com a supervisão encomendada de Carlos Lombardi, que durou 23 capítulos e tinha por meta fazer o ibope subir. O autor de “Uga Uga” e “O Quinto dos Infernos” não pestanejou: acrescentou humor, cenas de ação e uma pitada de erotismo. De fato, a audiência voltou, na mesma proporção que as camisas do peão Nélio, de Vladimir Brichta, foram limadas do figurino e o personagem ganhou “status” de garanhão. Ou que a comportada Clara, de Helena Ranaldi, apareceu em cenas mais ousadas ao lado do promotor e motoqueiro Pedro, vivido por Bruno Garcia. O “bad boy” – bem ao estilo “lombardiano”, por sinal – conseguiu o que o atormentado Edu, de Fábio Assunção, vinha tentando sem sucesso: tirar a trama central do estado apoplético em que se estagnou.

A meio mastro

Mas “Coração de Estudante” não descambou para o “Uga Uga” total. Sem Lombardi, e com a receita nas mãos para não deixar o ibope cair, o autor ficou a meio mastro. Quer fazer humor, mas conta com personagens de perfil realista, que não se encaixam no tom farsesco de Carlos Lombardi. O até então bem-comportado Edu, por exemplo, tem distribuído bordoadas ao vento, seja por ciúmes de Clara, para defender o filho ou apenas para salvar a pele no meio de uma quadrilha de bandidos – em mais uma seqüência da grife Lombardi. A diferença é que esse humor truculento não é o estilo de Emanuel.

Quando volta a si, o professor – que, aliás, nunca aparece dando aulas – vive o drama de perder a guarda do filho, Lipe, e desaba a chorar lágrimas de sangue. É a hora que a novela volta à linha realista e melodramática. Mas parece que essa fusão de estilos deixa Fábio Assunção e uma boa parte do elenco um tanto confusos sobre que estilo adotar. Um dos casos mais evidentes é o de Marcello Antony. Como o dissimulado Leandro, ele parece intimidado em assumir o tom patético inevitável nas brigas com o pequeno Lipe, de Pedro Malta. Já Caio Blat não cedeu muito no perfil do revoltado Mateus. Mas, aos poucos, conseguiu dar mais leveza à rivalidade entre seu personagem e o de Paulo Vilhena pelo amor de Rafa, vivida por Júlia Feldens.

Enquanto o romance de Edu e Clara não decola, os alunos da república não estudam e Emanuel não reencontra o próprio estilo, Vladimir rouba todas as cenas em que aparece como o apaixonado e afetivo Nélio. O peão caiu nas graças do mulherio da fictícia Nova Aliança e só reza para fugir da “tentação” e permanecer fiel à chata Amelinha, de Adriana Esteves. Outro que funcionou na linha “híbrida” incorporada por Emanuel foi Bruno Garcia. Mas para ele foi mais fácil. Afinal, o promotor Pedro – que joga lixo na rua e é o avesso do “comedor de alfaces” Edu – já entrou na novela sob o novo regime e, portanto, não sofreu qualquer adaptação. Acabou no lucro e vai passar longos capítulos se engalfinhando com a personagem de Helena Ranaldi, até o inescapável “happy end” de Clara e Edu.

À caça…

Mas inevitáveis parecem mesmo as mudanças de rumo nas novelas da Globo. Todas à caça da audiência perdida. Além de “Coração”, antecedida no horário das seis pela “camaleônica” “A Padroeira”, a trama das sete “Desejos de Mulher” também precisou de uma reforma para retomar o caminho da audiência. E a recém-chegada “Esperança” já teve vários capítulos reeditados, para não “jogar no vento” os 60 pontos de ibope herdados de “O Clone” – dos quais 20 já se escoaram. Em “Coração”, a baixa audiência já deu uma trégua. A novela está com média de 32 pontos. Mas, a considerar a mistura de estilos, parece que a ventania deixou seus rastros…

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