Os perigos do olfato desenvolvido

São Paulo (AE) – O livro Perfume, do alemão Patrick Süskind, é daqueles best-sellers que o cinema adora abocanhar bem rápido. Mas demorou mais de duas décadas para a obra – que vendeu 15 milhões de exemplares no mundo – chegar às telas. Um dos motivos é simples: o autor relutava em passar os direitos de filmagem para qualquer um -queria que Stanley Kubrick ou Milos Forman o dirigissem -simplesmente porque se trata de uma história que poucos teriam o talento para exprimir sua essência. Embora tenha obtido sucesso no livro, Süskind desconfiava que sua história sobre aromas e olfato fosse difícil de ser adaptada para o cinema. O desafio ficou com o diretor Tom Tykwer (Corra, Lola, corra), que explorou bem a história do livro em seu filme Perfume – a história de um assassino, que estreou no País no mês passado.

Com um orçamento bom para padrões europeus – US$ 64 milhões – Tykwer foi engenhoso ao reconstruir a fétida Paris do século XVIII. Em meio ao forte cheiro de um mercado de peixe, nasce Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw), logo abandonado pela mãe e descoberto por freiras. Os 30 primeiros minutos exploram o ambiente onde o garoto nasce e cresce. Ainda criança, descobre que tem um dom incomum: é capaz de diferenciar os mais diversos odores à sua volta. Intrigado, quer explorar todos os cheiros, e desafia-se a diferenciá-los até de longe.

O garoto fica obcecado com cheiros de ratos e restos de comida, até que Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman) o adota como aprendiz para refinar seu dom. Em pouco tempo, ele se torna melhor que o mestre e fica obcecado com um novo desafio: engarrafar o cheiro humano, o cheiro de uma mulher.

O que poderia ser uma ambição tola vira mote de um maníaco assassino: começa então a assassinar virgens para roubar-lhes as emanações. Em uma das melhores cenas do filme, Grenouille tenta memorizar a essência de uma mulher ao cheirar seu cadáver.

Estilo

Tykwer deixou de lado o estilo pós-moderno de Corra, Lola, corra e optou por algo mais clássico, como em seu filme anterior, Paris, eu te amo. Infelizmente, o final, que no livro é bom, foi simplificado no filme – como um Chanel falsificado. Mas isso não o estragou, e Perfume fez 3 milhões de espectadores em um mês na Alemanha e arrancou elogios da crítica, embora muitos ressaltem que o filme é longo demais (147 minutos) e que 30 minutos a menos na segunda parte o deixaria tão nobre quanto as essências dos pequenos frascos.

Mas, apesar disso, o longa tem força e o espectador assiste quase como se sentisse o cheiro daqueles perfumes na sala de cinema, graças à maneira como o diretor conseguiu estimular a imaginação do espectador. O público sairá da sala prestando mais atenção e dando mais valor ao olfato.

Livro de Süskind vendeu 15 milhões de exemplares

(AE) – Mais de 15 milhões de exemplares vendidos em todo mundo, traduzido em 40 línguas e adaptado para o cinema, O Perfume – a história de um assassino, foi escrito pelo alemão Patrick Süskind em 1985. Além de envolver o leitor com sensações e muitas expectativas, esta narrativa rica e fantástica rendeu ao romance de Süskind muitos elogios da crítica especializada.

O autor nasceu em 1949, em Ambach, na Alemanha. Estudou história e escreveu roteiros para a televisão antes de se tornar escritor de romances.  Perfume é seu romance de estréia, e provocou furor no mercado editorial internacional.

Süskind também se dedicou a peças teatrais, como O contrabaixo, até hoje representada nos palcos da Alemanha, Suíça e Áustria e, aqui no Brasil, foi adaptada por Antônio Abujamra. Outras obras literárias do autor são A pomba e Um combate e outros relatos, lançados pela Editora Record.

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