Obsolescências traz exposição premiada

A exposição Obsolescências é composta por 30 obras de 15 artistas dos 45 artistas premiados exibidas originalmente no Itaú Cultural, em São Paulo, na mostra Rumos Artes Visuais – Trilhas do Desejo traz a curadoria de Marília Panitz e assistência de Bitu Cassundé e Marcio Harum. A exposição discute a resistência dos artistas ao obsoleto e daí vem o nome da mostra, Obsolescência.

Os trabalhos que compõem esta mostra são de Amália Giacomini, Ana Holk, Rafael Alonso, Jacqueline Vojta, Daniel Hertel, Julia Amaral, Marina de Botas, Diego Belda, Fabrício Lopez, Felipe Cohen, Laerte Ramos, Letícia Ramos, Luciano Zanette, Nino Cais e Sofia Borges.

Letícia Ramos apresenta Cronópios, uma videoinstalação em looping. O filme foi montado a partir de imagens capturadas com câmeras lomográficas – máquinas russas simples, que operam com filme, produzindo imagens muito particulares, com certas distorções – no Largo de Pinheiros, em São Paulo. Sobrepostas, elas propõem outros ângulos e registros diferentes da realidade.

Uma versão gigante, em três dimensões, da Batalha Naval, é a obra de Laerte Ramos, que leva o mesmo nome do jogo. Os navios, confeccionados em argila moldada e recoberta com esmalte, enganam os olhos de quem vê. Destróieres, cruzadores, submarinos tornam-se esculturas e permitem ao público travar uma competição. Isoladas, elas se sustentam como obras.

No conjunto de microesculturas Aranha, Lacraia, Besouro e Pássaro, Júlia Amaral investiga noções de perda, morte, peso, leveza e, metaforicamente, a idéia de transcendência. Na escultura Desenhos funcionais #2, de Daniel Herthel, o arame risca o espaço e produz um estranho croqui do interior de um ônibus.

Em Casa de Máquinas, vídeo do mesmo artista, um aparelho projetado por ele faz uma bailarina dançar; e Casa de Máquinas – Making of mostra a construção desta máquina.

Felipe Cohen trabalha sombra, luz, peso e leveza na Série Meio-dia e em Regaço. São pequenos monumentos construídos de forma delicada com granito e papelão que, segundo a curadora, ao opor a fragilidade do papel à consistência da pedra nega resultam na retomada pelo avesso do princípio histórico da escultura e da relação virtual de produção de volumes.

A operação de desequilíbrio do olhar aparece, ainda, na arquitetura de Nino Cais, em sua obra Sem Título feita de cabos de madeira e baldes de dimensões variáveis. Este trabalho é um desafio à gravidade ao dar a sensação de que os objetos são empurrados ao contrário. Do nada, finas colunas fixam capitéis coloridos no teto, equilibradas na tensão entre o teto e o chão, exercida pela pressão da borracha de desentupidores.

A mesma fragilidade surge, também, no movimento recorrente das paredes virtuais da instalação de Ana Holk: Contra-Muro, uma vídeoinstalação de dimensões variáveis. São três filmes projetados no espaço que encerra uma sala, de modo a que cada filme ocupe toda uma parede. Cada projeção apresenta a construção de um mesmo muro de tijolos de concreto em diferentes etapas do processo. À medida que este espaço murado vai sendo erguido de um lado, vai sendo destruído do outro.

Marina de Botas apresenta três obras que se complementam: Manual Técnico para a Alteração do Pensamento Lógico, Revista Pretinho Básico e a performance Pretinho Básico, na qual a artista usa um vestido preto de veludo que se prolonga ocupando todo o espaço da sala. Para ver as outras duas obras expostas, o público é obrigado a passar por cima dele, como se fosse um tapete. Uma câmera fixa documenta o processo, e o vídeo ficará exposto durante toda a mostra. Já a Revista Pretinho Básico é composta de um par de desenhos que o público poderá levar para casa, no qual a figura de uma m,ulher pode ser vestida com a mesma roupa.

O Manual…, por sua vez, traz um passo a passo descrito por delicados desenhos, subvertendo os dos manuais originais, sobre como transformar procedimentos cotidianos em resultados mágicos; como mito de Ícaro.

Amália Giacomini provoca o espectador com Entre. As pontas desta série de setas voltam-se para a entrada do espaço gerando um campo virtual em direção contrária à do visitante. A proposta da autora é criar um curtocircuito para o público entre a atração espacial e a repulsão simbólica do espaço da arte. Nesta obra, a ação embutida se torna ícone poderoso: recebe e conduz; às vezes, dependendo da exposição, em sentido contrário.

Em Sinuca de Bico e Sinuca: Bola Seis atrás da Cinco, de Diego Belda, escultura e pintura se mesclam nas duas obras deste artista. Elas trazem uma presença cromática de uma paleta afirmativa tanto na intensidade dos pigmentos saturados quanto nas formas que ocupam, e nas suas oposições. Evocam, com certa distância, um universo pop sem o recurso do comércio – com as figuras familiares do mundo do consumo e da informação.

Luciano Zanette também brinca com as referências do observador com Vale Ter Ser Tesa e Hábitos Insuficientes, ambas da série Mobiliário Melancólico. São duas mesas às quais nada falta, mas que não podem nunca cumprir a função à qual estão destinadas. Uma parece escorregar, a outra se contorce perdendo a estabilidade. A bem-humorada e distorcida mobília disfuncional do artista dá alma aos objetos, oferecendo no lugar da função a possibilidade estética de surpreender o visitante.

As pinturas de Jacqueline Vojta – Noite Sutil, Número 1 de Novo, e Até que o Céu Caia Sobre Mim, são colagens de tecidos pintados pela artista carioca na tela, dando um efeito de pintura noturna. Encharcadas de tinta, com relevos e matizes sutis, estas obras pedem tempo e atenção para serem descobertas.

Em Linhas em uma Mesma Direção Justapostas, de Rafael Alonso, a matéria prima é o elástico, que resulta em um trabalho pictórico. Trata-se de uma obra-armadilha, segundo a curadoria. Várias chapas de madeira, totalmente envolvidas pelos elásticos formam um conjunto de quadrados em um quadro maior.

A xilogravura sobre papel Rema, rema, remador, de Fabrício Lopes, atua como subversão do princípio da técnica. Esta obra é feita de várias matrizes, cujas cópias são compostas sobre a parede interna do instituto em suas partes, à maneira dos out doors. Coladas diretamente sobre ela, vão revelando a imagem, algumas vezes sobreposta a outras. Da colagem das gravuras, surge a obra, ao mesmo tempo única e múltipla.

As quatro fotografias sem título de Sofia Borges fazem operação semelhante ao desestabilizar o estatuto da imagem fotográfica. As imagens que ela capta lembram pinturas do século XVI ou XVII, e as naturezas mortas, contudo, são atuais ressaltando a sua contemporaneidade e confundindo as referências do observador.

Serviço:
De 03/08 a 09/08 – De segunda a sexta, das 10h às 19h; Sábado e domingo, das 10h às 16h
Entrada gratuita
Casa Andrade Muricy
Alameda Doutor Muricy, 915
Centro – Curitiba
Telefone: 3321-4798