O dono da “solucionática”

Quem trabalha para a Globo não é o Dario José dos Santos, mas o Dadá Maravilha. É com esta visão que o campeão mundial em 1970, tricampeão brasileiro e detentor de cinco títulos regionais, entra nos estúdios da emissora para fazer comentários ou gravar o “Solucionática”, do “Esporte Espetacular”. O nome do quadro, inclusive, é oriundo de uma das dezenas de frases célebres que criou quando ainda balançava a rede dos adversários. “Não me venham com problemática, que tenho a solucionática”, provocava. Atualmente, aos 56 anos, Dario tenta seguir na tevê o mesmo estilo imprevisível que tinha como jogador.

Dario foi contratado em novembro de 2001 após chamar a atenção da Globo com suas análises na TV Alterosa, afiliada do SBT em Belo Horizonte. Desde então, além do “Esporte Espetacular”, tem espaço no “Globo Esporte” de Minas Gerais, faz comentários nos jogos dos times mineiros e é titular da mesa-redonda da Globo na Copa do Mundo. Recordista de gols no Brasil em uma partida – foram 10 -, três vezes artilheiro do campeonato brasileiro – feito só igualado por Túlio – e autor de 499 gols feitos de cabeça, Dario garante dominar bem a relação entre jogadores e comentaristas.

P

– Um bom comentarista tem de ter jogado futebol ou não?

R

– Não ter jogado é até mais importante. Porque aquele que estuda, sabe mais que aquele que só jogou. Muitos comentaristas estão anos-luz na minha frente. No futebol sim, achei que poderia ser o melhor. Na minha época, disputava a artilharia e ganhava do Pelé. Mas quem sou eu para me comparar com o Pelé tecnicamente? No entanto, a minha produção era muito grande. Não era de perder gol. Tanto que bolei a frase: “Me preocupei tanto em fazer gols, que não tive tempo de aprender a jogar futebol”. Como tinha pouca bala na agulha, não podia sair disparando como jogador e é assim hoje. Minha produção tem de ser máxima nos comentários. Mas não vou ser o melhor do Brasil. Primeiro, por ser limitado.

P

– Em que sentido?

R

– Não tenho estudo e nem paciência de ficar lendo sobre futebol. Não sei nada. Tenho problemas de pronúncia. Nome de jogador da seleção da Polônia, por exemplo, não sai mesmo. E a minha voz também é pequena, de pato rouco. Também não conseguiria conquistar pela beleza. É zero. Mas tenho o carisma e a simpatia que Deus me deu. Então, usufruo. E o povo escuta o que falo desde os tempos de jogador. Devido àquela minha frase “somente três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e o Dadá”, por exemplo, muita gente lembra de mim quando enxerga um helicóptero ou beija-flor. É uma marca.

P

– Você acredita que o comentarista Dadá pode ser tão popular quanto o atleta Dadá?

R

– Não sei. Sou famoso pelas frases e não pelos gols. Todos sabem que “para toda problemática, eu tenho a solucionática” veio do Dadá. Ou “não existe gol feio, feio é não fazer gol”. Mas se perguntarem quem foi o jogador que fez 10 gols em uma partida não vão saber que foi o Dadá.

P

– Você acha que os comentaristas se repetem nas análises?

R

– Olha, se o Brasil ganhar, por exemplo, você não precisa me perguntar o que tal comentarista vai falar porque já tenho uma noção do que vai ser. Mas se qualquer jornalista adivinhar o que o Dadá vai falar, dou um bolo para ele. E também não faço média com ninguém. Jogo no time da Verdade Futebol Clube.

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