Numerosas motivações

Apesar dos 30 anos de profissão, o ator Ernani Moraes é praticamente um novato na tevê. Como uma Onda, na qual interpreta o ingênuo pescador Quebra-Queixo, é a terceira novela de sua carreira, as outras foram Torre de Babel e Chocolate com Pimenta. Mas Ernani quer deixar de aparecer eventualmente na tevê. Depois de 20 anos fazendo apenas teatro, ele não esconde a vontade de se dedicar mais à televisão. O motivo vai muito além do puro e simples encantamento pelo ritmo bem mais acelerado do trabalho nos estúdios. ?Desde que comecei a fazer tevê, o meu cachê, os convites para atuar e o respeito como ator triplicaram??, admite, com um largo sorriso.

Através de seu personagem em Como uma Onda, Ernani, além de ganhar agilidade de interpretação, aprendeu a gostar de cães. Isso porque ele divide suas cenas com a Cachorra uma vira-lata de um ano e meio batizada dessa forma por Quebra-Queixo. Quem parece não estar gostando muito dessa tamanha afinidade é a mãe do ator, que mora na Paraíba. "Ela sempre me liga e diz: ‘Meu filho, não beija a Cachorra na boca. Cachorro lambe cocô’, conta, às gargalhadas. Ernani chegou, inclusive, a pedir à produção da novela para ficar com a Cachorra. Como o pedido foi negado, ele decidiu comprar um cachorro.

P – O que mais chama a sua atenção no Quebra-Queixo?

R – Eu sempre soube que ele poderia ser uma faca de dois gumes. Se você carrega nas tintas num personagem que tem algum tipo de deficiência mental, enjoa. Quem vê, fala: lá vem aquele doido chato. Se você faz se defendendo, parece que não sabe interpretar. O que mais me encanta no Quebra-Queixo é justamente essa certa dificuldade em achar o tom. Ele não pode ficar exagerado e, ao mesmo tempo, tem de ser crível. O que me ajuda bastante é pensar nele como um ser assexuado. Assim, consigo dar um ar mais inocente e infantil ao personagem.

P – A audiência de Como uma Onda está aquém do esperado. Isso influencia o seu trabalho de alguma forma?

R – Faço muito mais sucesso com o Quebra-Queixo do que fiz, por exemplo, com o delegado Terêncio de Chocolate com Pimenta, que teve um ótimo Ibope para o horário. O público e o próprio diretor Dennis Carvalho estão falando muito bem do meu trabalho. Pessoas de todas as idades me param na rua para elogiar minha interpretação. A repercussão está ótima.

P – O fato de não ser um galã dificultou sua carreira em algum momento?

R – Quando se tem 20 anos, beleza é uma imposição. Nessa época, se eu concorresse com atores mais bonitos para um mesmo papel, eles sempre seriam escolhidos. Mas depois dos 40 anos essa imposição vai ficando cada vez mais light, pois posso fazer papéis de pai, tio, pescador, delegado, nos quais não há a necessidade de ser bonito. Para o ator feio a carreira é mais longa. É a minha pequena vingança sobre os belos.

P – Até o momento fazer poucos trabalhos na tevê foi uma opção ou não surgiram muitos convites?

R – Foi uma opção. Mas agora, aos 48 anos, o que eu mais queria era ganhar um contrato de quatro, cinco anos na Globo e não ser apenas contratado por obra. Com um contrato mais longo, posso planejar minha vida, comprar um apartamento… Gostaria mesmo de descansar um, dois meses e já fazer outro trabalho na casa.

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