No centenário de uma obra-prima

Uma das principais obras da cultura brasileira está completando 100 anos. Publicado em dezembro de 1902, Os Sertões, de Euclides da Cunha, inaugura um ciclo de obras (a exemplo de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda) que lançam um olhar agudo sobre o Brasil, tentando decifrar os principais signos da nossa nacionalidade. E O Clarim e a Oração: Cem Anos de Os Sertões, organizado pelo professor de literatura e escritor Rinaldo de Fernandes, e que a Geração Editoral (600 págs.) acaba de lançar, faz uma justa homenagem ao livro de Euclides, um dos maiores intérpretes da realidade brasileira.

Rinaldo de Fernandes escreveu baseado em sua própria tese universitária defendida na Unicamp, sintetizando o que de melhor se produziu sobre Euclides da Cunha e sua obra-prima nos últimos 50 anos. Nesse universo estão poetas, jornalistas e catedráticos, de Augusto de Campos e Vargas Llosa.

Um dos pontos altos de O Clarim e a Oração são as entrevistas que os jornalistas Sandra Moura e Suênio Campos de Lucena fizeram, especialmente para constar do livro, com moradores de Canudos, no interior da Bahia. Nessas entrevistas, são resgatados ícones da Guerra de Canudos (tais como o conselheiro, o coronel Moreira César, os jagunços, etc.) vistos da perspectiva dos moradores da região onde, em 1897, aconteceu o massacre de sertanejos pelo exército. O leitor, assim, tem dos fatos uma interpretação rica e bem-humorada feita por gente como Ioiô da Professora e João de Régis, que guardam vivos na memória os acontecimentos e os principais personagens do arraial fundado por Antônio Conselheiro.

O Clarim e a Oração, ilustrado por T. Gaudenzi, premiado artista plástico baiano, tido como o principal pintor da Guerra dos Canudos, traz ainda um “roteiro de Euclides” (uma detalhada cronologia da vida e obra do autor de Os Sertões), uma indicação dos 60 principais estudos sobre Os Sertões e/ou Euclides da Cunha e uma lista de sites.

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