Naná Vasconcelos, 50 anos de carreira

Eleito oito vezes como melhor percussionista do mundo pela revista norte-americana Down Beat, Naná Vasconcelos anuncia lançamento do CD inédito Trilhas, em setembro, e comemora 50 anos de carreira. Apesar de já estar meio século trabalhando, Naná tem apenas 62 anos. Sua carreira começou cedo, aos 12 anos de idade, tocando bongô e maracas no conjunto de seu pai, um violonista. Nascido em Recife, Naná Vasconcelos atuou como baterista nos anos 60s, tendo tocado com Milton Nascimento, então em início de carreira. Ele teve influências musicais que iam de Villa-Lobos a Jimi Hendrix. Gradualmente Naná foi passando para a percussão e os experimentos free no início dos anos 70s, principalmente depois de se encontrar com Gato Barbieri e Don Cherry.

Especializou-se em instrumentos de percussão brasileiros, particularmente o berimbau e mergulhou no universo rítmico afro-brasileiro, começando então a despontar ao sucesso internacional. ?Saí de Recife e fui para o Rio de Janeiro pela primeira vez e já conheci Milton Nascimento, que também estava começando sua carreira. Gravamos um CD juntos e de repente estava nos Estados Unidos para fazer uma turnê, sem falar inglês e num frio de lascar?, conta ele. ?Nós fazíamos uma música improvisada, misturava jazz com os mais variados instrumentos brasileiros, como o berimbau e a caçarola. Foi o Brasil que inventou isso. Somos pioneiros nessa maneira de tocar?, afirma. Algumas das melhores parcerias de Naná foram feitas com Egberto Gismonti. Em 1976 Naná gravou, em duo com Egberto, o memorável disco Dança das cabeças. Dificilmente se podia imaginar, até o aparecimento desse cultuado trabalho, como pode soar poderoso um simples duo de violão e percussão (no qual os instrumentistas também cantam). ?Eu acredito na força musical e que o melhor instrumento é o corpo. Então, nos meus shows de percussão eu procuro inovar e tiro os sons da madeira, do metal, do vidro e também dou uns gritos, as pessoas acham que eu sou maluco?, conta o artista. Naná Vasconcelos já se apresentou como solista à frente de orquestras sinfônicas e conjuntos de câmara, implementando na prática a sua crença de que é possível uma convivência frutífera entre o jazz, a música erudita e os elementos afro-brasileiros. Ele é também um dos idealizadores do PercPan, um festival internacional de música para percussão em todas as suas formas. Apesar disso, Naná lamenta que a maior parte da sua obra tenha sido lançada fora do País. ?Se eu ficasse no Brasil, dificilmente conseguiria construir uma carreira solo como percussionista?, lembra. Naná morou 25 anos em Nova York e 5 em Paris, mas agora voltou ao Brasil e se diz muito feliz de estar de volta. ?Nunca perdi a minha identidade. Me envolvo com a música e os artistas internacionais, mas o meu trabalho é verde e amarelo. Gosto de celebrar as diferenças e exaltar as similaridades.?

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