Na estrada da vida

No ar há três meses como a vendedora de jóias Joana em Paraíso tropical, Fernanda Machado não via a hora de sua personagem se transformar na história. A falta de conflitos na trama de Gilberto Braga estava deixando a jovem de cabelo em pé, mas agora a atriz não tem do que reclamar. Além da decepção com o namorado Umberto, de Sérgio Marone, que roubou todo o seu dinheiro, Joana vai mudar radicalmente o estilo de vida, virando garota de programa. O autor reserva um segredo que será desvendado em breve na trama e envolve o passado de Neli e Heitor, de Beth Goulart e Daniel Dantas, respectivamente. Fernanda não revela muitos detalhes sobre isso, mas dá a entender que envolve diretamente sua personagem.

Com a revelação, Joana ficará mais ligada à colega Úrsula, de Raquel Parpneli, e será mais uma prostituta na novela. A princípio, a moça fará apenas programas de luxo, mas isso também pode ser alterado. ?No começo, ela vai estranhar. Achará até que um ?gringo?, com quem sai, é seu namorado. Mas quando ele pagar pelo serviço, ela vai cair na real?, conta.

Antes de ser convidada para entrar em Paraíso tropical, Fernanda Machado já tinha acertado com Walcyr Carrasco que estaria em Sete pecados, novela do autor. Mas, por insistência de Gilberto Braga, a atriz voltou ao trabalho mais cedo para interpretar Joana no horário nobre da Globo. No início, a idéia a empolgou, mas a falta de conflitos inicial de sua personagem transformou o trabalho em ansiedade e angústia. ?Fiquei quase que arrancando os cabelos! Estava me sentindo meio inútil como artista, independente do quanto Joana estava aparecendo. Mas agora isso já está mudando?, comemora.

A necessidade de viver personagens que exijam um cuidado maior se explica pela experiência nos palcos que Fernanda acumulou em seus 26 anos. Estudante de teatro desde os 12 anos, ela viveu em Maringá até os 17. Quando terminou o ensino médio, decidiu deixar a cidade natal e prestar vestibular para Artes Cênicas em Curitiba. A partir daí, fez uma peça atrás da outra e se aventurou cada vez mais nos palcos. Tanto que hoje tem registro profissional de maquiadora, aderecista, produtora, figurinista e atriz. ?Em teatro a gente precisa se desdobrar em várias funções para o projeto dar algum lucro. Em compensação, os papéis costumam ser mais reflexivos e instigantes?, justifica.

O convite para a oficina de atores da Globo surgiu depois que, em duas edições do Festival de Teatro de Curitiba, foi observada por produtores de elenco da emissora. E quase foi recusado. É que, entre um festival e outro, Fernanda decidiu pegar suas economias e passar oito meses estudando inglês e maquiagem para cinema em Londres. Quando recebeu o convite para integrar o time de possíveis talentos da emissora, foi informada de que seriam quatro meses de aulas intensivas sem qualquer remuneração. Fernanda pensou bem e resolveu se aventurar. ?Confesso que foi um inferno. O Rio sem dinheiro fica um saco. Mas foi uma boa troca com os alunos, apesar de 90% da turma ser composta por modelos?, explica.

Em sua terceira novela – ela estreou na tevê como a russa Sonya de Começar de novo e interpretou a vilã Dalila em Alma gêmea -, a atriz aproveita suas aparições na tevê para investir no cinema. Fernanda já espera a estréia de seus dois primeiros longas, Inesquecível e Tropa de elite. O último teve as gravações encerradas cerca de 10 dias antes de se iniciarem os trabalhos para a novela de Gilberto Braga. Isso, segundo ela, acabou ajudando na composição de Joana. É que o longa de José Padilha, apesar de estar no gênero ficção, tem uma forte influência dos documentários do diretor. ?O Gilberto gosta de uma interpretação naturalista e foi isso que fizemos no filme. Acho que eu estava no embalo certo quando comecei a gravar a novela?, diz.

Esperando voltar ao palco

Fernanda não tem dúvidas de que a televisão abriu uma série de portas em sua profissão. Mas com a mudança para o Rio, deixou de atuar em um veículo que, na sua opinião, é o mais fascinante para um ator: o teatro. Como mora no Rio há pouco tempo e vem emendando uma novela na outra, a atriz ainda não teve tempo para se enturmar com pessoas que sejam do cenário teatral carioca. ?Acaba sendo uma espécie de panela. Em Curitiba eu era do grupo, mas aqui ainda não rolou. Fiz só uma peça e estou morrendo de vontade de voltar?, dá o recado.

Até agora, Fernanda só se aventurou em uma peça teatral no Rio. Foi em O beijo no asfalto, texto de Nélson Rodrigues. Por isso mesmo, seus planos para depois que a novela acabar já incluem uma pausa – se possível – na televisão para poder estudar algum espetáculo.

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