Música de Noel Rosa chega a Curitiba

Pode parecer estranho, tratando-se do compositor Noel Rosa, mas o show intitulado Noel que estréia no próximo dia 4, às 21h, no Teatro da Caixa, em Curitiba, não é um show de samba. Ou, pelo menos, não daquele samba que costumamos ouvir hoje. Além de violão e pandeiro, o público irá se deleitar ao som de guitarra, piano, bateria, clarinete, flauta, entre outros instrumentos, inclusive alguns não tão convencionais, como caixa de fósforos, lata de alumínio e pente.

Noël traz ao palco uma trupe de qualidade, porém nada heterogênea: o percussionista e flautista Gabriel Schwartz, do Trio Quintina, o violinista Ale Age, o pianista Marcelo Torrone, do grupo Wandula, o clarinetista Sergio Albach, diretor artístico da Orquestra à Base de Sopro do Conservatório de MPB de Curitiba, que inclusive assina a direção musical do trabalho, além do ator e cantor Márcio Juliano, idealizador do projeto e dono da voz.

?Noel brincava com sonoridades diferentes, arriscava sem medo, era ousado para a época e como o repertório oferece essa possibilidade, ela não foi desperdiçada na releitura de sua obra. Os arranjos são experimentais, contemporâneos, sem usar clichês para fazer jus aos termos. Aproveitei o perfil diversificado dos músicos para somar as diferentes influências?, conta Albach. ?Como Curitiba não tem tradição em samba, me deixei guiar pelo mestre da música desconstruída, Chico Mello, e pelas idéias de Eduardo Gramani?, complementa.

Quem assina a direção cênica do show é Márcio Abreu, um dos mais conceituados diretores de teatro da atualidade de Curitiba. E como se não bastasse, o show conta ainda com participações especiais, entre elas: Edith de Camargo, também do Wandula, Liane Guariente, integrante do Terra Sonora, Melina Mulazani, do Grupo Mundaréu e Noivas do Alfreddo e Babi Farah. Cada noite uma das cantoras irá dividir o palco com os ?meninos?. Mas a participação mais inusitada será a da cantora Aracy de Almeida, por meio de gravações em off, ela colore a apresentação com comentários e depoimentos bem-humorados e sinceros sobre o amigo Noel Rosa.

Quem for ao teatro poderá conferir 17 das cerca de 250 composições que Noel criou em sua curta trajetória. O poeta da Vila, como era conhecido, morreu precocemente aos 26 anos de idade. Desenvolveu a sua obra de 1929 a 1937, tornando-se a principal referência como compositor popular de seu tempo no Brasil. Poucos tiveram tanta influência na música nacional em toda a sua história. Noel Rosa foi referência básica para seus contemporâneos e seus sucessores.

?A escolha do compositor para a realização do show não foi à toa, o que me motivou foi a importância da sua obra. Suas letras e melodias são tão precisas e, ao mesmo tempo, tão irreverentes. Noel transformava os pequenos fatos do dia-a-dia em poesia. Ele era genial, revolucionou a música popular brasileira por meio da simplicidade, sabia como ninguém descrever tipos, contar histórias, revelar o cotidiano?, declara Juliano. De acordo com o cantor, o difícil foi selecionar as músicas do repertório. ?Escolhi com o coração, priorizando letra e melodia?, conta.

O show, de acordo com o diretor cênico, Marcio Abreu, é todo concentrado no repertório, não traz nenhuma representação, ou seja, não foram criadas cenas. ?A questão cênica está na narrativa das letras das músicas e na relação entre os músicos durante a apresentação. A riqueza deste show é a relação entre o clássico da MPB e a música contemporânea?, descreve Abreu.

Outro aspecto interessante do show apontado pelos músicos é a utilização de trechos originais das gravações de Noel. ?Senti-me lisonjeado ao ser convidado para participar deste trabalho. Para mim é um mergulho em um universo completamente diferente. Uma oportunidade para desenvolver outras habilidades como músico, é uma possibilidade de troca muito rica?, comemora Marcelo Torrone, pianista do grupo Wandula, que faz parte do show.

?Fiz questão que os músicos conhecessem e aprendessem a tocar Noel de forma clássica para depois brincarmos?, explica Albach, que propôs a maioria dos arranjos. ?A partir do grupo esses arranjos foram se transformando, criamos de forma coletiva. A estrutura-base foi proposta pelo Marcio Juliano, ele foi quem definiu o clima, os detalhes, eu me encarreguei de viabilizar as idéias dele musicalmente?, esclarece Albach.

Voltar ao topo