Música brasileira enfrenta crise de identidade

Os críticos não se cansam de dizer que o momento da música brasileira é dos mais delicados. Tirando os mais jovens, antenados com as novidades (não só nos palcos, mas também na internet), os analistas só reclamam do barulho, das inovações, dos estrangeirismos, da eletrônica. Pedem uma música mais suave, mais ligada às tradições brasileiras, mais próximas dos grandes momentos do que se chama Música Popular Brasileira.

O público quer barulho, quer festa, quer música eletrônica. Está mais que satisfeito com o atual estágio da música brasileira. Se quer mais agito, tem. Se sai de casa de fivela, bota e chapéu, vai encontrar um bar ou um show sertanejo. Se for da turma do pagode, há lugares e mais lugares por aí. Os ?emos? também não ficam atrás, pois a cada hora aparece um grupo novo. A turma do axé não reclama, pois tem todos os tipos de Ivete Sangalo que precisam.

O público, portanto, quer uma coisa. Os críticos, outra completamente diferente. O resultado está nas premiações. Há algumas semanas, o Prêmio TIM de Música homenageou Dominguinhos e teve Paulinho da Viola como o grande vencedor. Quarta passada, no Prêmio Multishow de Música Brasileira, foram consagrados NX Zero – ícones da música ?emo? – e Ivete Sangalo, a cantora mais pop da atualidade. A diferença está na presença forte dos críticos no primeiro e do público no segundo.

A votação do Prêmio Multishow é toda feita por internautas. Eles escolhem os candidatos e, depois, votam nos vencedores. Daí saiu a lista anunciada na quarta, com Charlie Brown Jr. com o melhor clipe, Ana Carolina com o melhor show, Ivete Sangalo com o melhor DVD, Maria Rita com o melhor CD, os jovens do Strike como revelação, NX Zero como melhor grupo, Vanessa da Mata com a melhor música (Boa Sorte), Radamés Venâncio, da banda de Ivete, como melhor instrumentista, e Di Ferrero, vocalista do NX Zero, e Ivete como melhores cantor e cantora, respectivamente.

É a prova que os caminhos estão distantes – e não cruzados, como certa vez escreveram Tom Jobim e Newton Mendonça. E não é difícil entender o que acontece. O público consumidor de música é cada vez mais jovem, e sempre a música jovem foi a mola-mestra da indústria cultural. Foi assim com a Bossa Nova nos anos 50s, a Jovem Guarda nos anos 70s, o rock nos anos 70s e 80s, o grunge nos anos 90s. A crítica aceitou isto por longo tempo porque havia qualidade no que se produzia. Agora, é nítido que o nível caiu, mas ele atende o público interessado.

Para os críticos, restam os bons discos que se produzem. Há muita coisa de altíssima qualidade sendo feita no Brasil, principalmente no samba. E cabe à crítica exaltar a música de bom nível – fazendo, realmente, a função de formador de opinião, e criando no público ao menos a curiosidade de buscar outras vertentes.

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