Musa de ‘O Carteiro e o Poeta’ promove festival em SP

Maria Grazia Cucinotta é a primeira a ironizar seu status de estrela. Ela posa para fotos na piscina de um hotel de luxo da Paulista e diz que, daqui a pouco, já vai parar de bancar ‘La Cucinotta’. Como? “Vou tirar esses sapatos altos, colocar uma roupa mais confortável. Quero ir às compras. Qual mulher não gosta de ir às compras?” Maria Grazia fez o que não deixa de ter sido um sacrifício pessoal para vir à abertura da 10ª Mostra de Cinema Italiano, segunda-feira, 24, à noite no Auditório Ibirapuera. Tomou um avião pela manhã em Roma, fez conexão em Amsterdam e, à noite, chegou de helicóptero ao Ibirapuera para saudar o público.

Linda – passaram-se 20 anos, mas ela ainda reproduz o impacto que produziu ao estrelar O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford, baseado no livro de Antonio Skármeta. ‘Scusi’, ela corrige o repórter. “O filme era de Massimo (Troisi), Radford minimizou o aporte dele após a morte do meu amigo. Ma lascia stare… Passou”, diz. Há pouco, no Festival de Roma, houve uma homenagem aos 20 anos do Carteiro – e da morte de Massimo Troisi. O filme foi exibido numa versão restaurada. “Tivemos um segundo tapete vermelho, e eu fiz aquele percurso chorando. Tinha 23 anos, mas ainda era uma bambina. Vinha da Sicília, da proteção familiar. O Carteiro, e Massimo, me abriram um novo mundo. Não sabia nada de nada. Transformei-me.”

Agora, aos 43, e ainda uma linda mulher, ela veio a São Paulo para a pré-estreia de La Moglie del Sarto/A Mulher do Alfaiate. O filme de Massimo Scaglione abriu a mostra italiana para convidados e hoje ganha a primeira sessão para o público. É sobre essa calabresa que herda a alfaiataria do marido, que morre de repente, e tem de lutar porque os poderosos locais querem expulsá-la do lugar. A alfaiataria possui uma vista privilegiada, sobre um platô do qual se descortina o mar, e ali daria um excelente empreendimento imobiliário – um grande hotel, um resort. A viúva resiste.

Inicia-se uma campanha para desmoralizá-la. “É uma linda história de resistência. Faço uma mulher vivida, forte, que não se intimida. E sou mãe – faço um belo sacrifício que uma mãe pode fazer por sua filha. Ela não pode ter filhos, eu vou parir por ela.”

É evidente que a personagem mexeu com a atriz. Ela conta. “No fundo, tive sorte. Massimo (o diretor) teve problemas com a atriz que foi sua primeira escolha. Ela não queria fazer uma mãe, e mais que isso uma avó. Eu não tenho problemas com a idade. Fazer a velha não me assustou, o importante é que o papel era bom.” Como, velha? O repórter observa que ela segue deslumbrante, e ali está o decote generoso que não deixa mentir. A entrevista realiza-se sob o olhar vigilante do marido. “Estamos juntos há 20 anos, desde três meses antes de Il Postino. Foi o melhor ano da minha vida. Ganhei um papel com o qual mal podia sonhar e um marido que até hoje é meu companheiro querido.”

E ela conta que é preciso um companheiro assim para dar conta de suas múltiplas atribuições. Enumera – “Ser mãe, atriz, produtora, dona de casa e La Cucinotta pode ser desgastante. Sem ele não sei o quer faria.” O sucesso de O Carteiro e o Poeta a levou a Hollywood, onde viveu por dez anos. Foi sua escola profissionalizante. “Fiz uma grande amiga, Barbara Broccoli (a produtora de James Bond). Duas mulheres foram muito importantes para mim – Barbara e Geraldine Chaplin. É encantadora.” O repórter concorda porque, afinal, entrevistou Geraldine duas vezes nos últimos meses. “Você sabe do que estou falando, então”, ela arremata. Uma última observação. A paisagem de A Mulher do Alfaiate é deslumbrante. “Fica na Calábria. Conheço bem a região.

Passava muito de trem por ali. Viajei bastante pelo mundo, mas nada substitui aquela paisagem.” E Maria Grazia conta que volta sempre a Messina, na Sicília – “Minha mãe mora lá. Está velhinha, mas não sonha em partir. Eu é que volto. São raízes muito fortes.”

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