Sobre a despedida

Mulher causa mal entendido ao levar flores ao cemitério

Miguel Manasses, Gabriel Massaneiro e Natália Moraes

Em uma tarde comum, quem vai ao Cemitério Municipal de Curitiba, certamente pode reparar nas inúmeras flores que compõe o cenário. Das mais variadas cores e formas, elas são alvo dos mais diversos simbolismos. Elas alegram o coração dos apaixonados, são objetos de admiração para os artistas, ou um pedido singelo de desculpas. No caso do cemitério, suavizam atmosferas e homenageiam familiares e amigos que não voltam mais.

A cidade de Cianorte perdera, em 1975, um dos seus maiores empreendedores da indústria têxtil, José Luiz da Barbara. Faleceu, nos últimos dias do verão aos 58 anos vítima de um ataque cardíaco. Em conjunto com o irmão, João Duque da Barbara, eles ergueram uma das mais proeminentes lojas de atacado de roupas na cidade.

Entretanto, José era conhecido por suas capacidades administrativas e não tanto por suas fraquezas. Mesmo sendo casado e pai de um filho, a primeira pessoa a encontrar seu corpo não foi um de seus familiares, mas sua amante. A identidade da moça, até então era desconhecida.

Depois da missa do sétimo dia, que ocorreu no primeiro dia do outono, uma das antigas funcionárias de José Luiz, Raquel Orcinski, decidiu levar flores no túmulo do antigo patrão. Ela tinha certo carinho por ele, sempre o julgou um homem justo e simpático, uma homenagem com flores era o mínimo que ela poderia fazer. Apesar da estação das chuvas ter acabado de chegar, o dia foi marcado por uma tempestade de força singular. Algumas pessoas que estavam lá disseram ser o pior temporal que atingiu o norte do Paraná naquele ano.

Graças ao clima, Raquel não teve condições de comprar um bouquet de flores que fosse todas as floriculturas da região ao redor do cemitério estavam fechadas. Não se sabe por que, mas é acreditado que Raquel, após a tempestade, decidiu pegar flores espalhadas graças ao vento e colocou-as no túmulo de José Luiz. Após prestar a estranha homenagem ao patrão morto, Raquel retomou sua rotina diária, sem maiores problemas.Isso, até o dia seguinte.

A viúva, em uma visita ao túmulo do marido, se deparou com aquele bouquet de rosas improvisado. Estranhou aquilo pois as únicas outras flores próximas à lápide eram aquelas compradas pelo filho no dia anterior, um pequeno vaso de tulipas amarelas. Aquelas rosas amassadas não eram oferenda deles. Olga, querendo saber quem deixou aquelas flores ali, foi investigar e perguntou ao coveiro:

“Senhor, sabe me dizer quem foi que pôs aquelas flores no túmulo do meu marido?’

O coveiro estranhou a pergunta, mas sabia como responde-la:

“Ó senhora, sei sim. Foi a Raquel, aquela que trabalhava pro Seu José no atacado”

Olga se surpreendeu. Sabia que o marido tinha uma amante e também sabia que era uma das mulheres que trabalhavam para ele, mas não poderia sair acusando as mais de 20 moças que seu marido via todos os dias no atacado. Outro problema era o mínimo contato que a viúva mantinha com as funcionárias do atacado, mal conhecia duas das meninas.

Mas agora ela sabia (ou pelo menos acreditava saber) com quem José Luiz a traiu. A única Raquel dentre todas as funcionárias, Raquel Orcinski.

Não passou uma semana desde o dia em que Olga descobriu sobre Raquel e os boatos já corriam: “A Olga quer matar uma das funcionárias do Seu José, parece que ela era a amante dele”. Quando as notícias chegaram aos ouvidos de Raquel, ela estava sem reação: O que poderia ter feito? Ela se dava bem com o patrão, mas jamais faria isso, jamais quebraria a santidade do casamento de qualquer homem. Por que queriam matá-la? Se é que queriam.

Não demorou para que figuras estranhas começassem a segui-la pelas ruas da cidade, a ficarem na frente de sua casa, apenas observando. Raquel temia por sua vida, temia por seus filhos. O mais sensato seria conversar com Olga, mas tinha medo, medo de não ser o,uvida.

A filha de Raquel, Márcia, que era pequena na época, lembra de ter crescido em Londrina, longe dos boatos de Cianorte. Mas o que houve com a mãe, não sabia o que era. Sua mãe entrou em depressão quando Márcia ainda era pequena. Raquel nunca falava no assunto, não se sabe até hoje se ela e Olga se encontraram, ou se Olga sabia do paradeiro de Raquel. Olga morreu cinco anos após a morte do marido, vítima de um derrame.