Mostra em Barcelona reúne fotos de jornalista brasileira

A fotografia não era a primeira opção de trabalho de Levan Tsulukidze, que nasceu na Georgia e há 12 anos vive em Barcelona. Também foi por acaso que a jornalista paulistana Ilana Lichtenstein descobriu a fotografia. Tudo começou quando ela leu um romance de José Eduardo Agualusa no qual uma personagem, fotógrafa, dizia que colecionava luz. Levan se dedica a fotos amplas, claras, em que o céu é o destaque e a luz é imensa. Ilana trabalha no pequeno, fotos escuras nas quais, após um olhar acurado, se percebe uma busca intensa. Aparentemente, nada mais oposto entre os dois. No entanto, a observação aguçada da curadora espanhola Gloria Fernandez Macias descobriu mais do que antagonismo e agora as séries de ambos serão expostas em conjunto no Galeria Paradigmas, em Barcelona, que tem como um de seus sócios o brasileiro Chico Amaral.

“Casualmente Fotografia” começa amanhã na cidade espanhola. “É verdade que, na aparência, os dois trabalhos parecem opostos, mas se nos permitirmos uma observação mais acurada descobrimos que os dois captam uma certa solidão e nostalgia. São diferentes em alguns aspectos, mas muito parecidos em outros. E é isso, acredito, que faz com a exposição seja muito rica”, afirma, por e-mail, a curadora.

Em alguns textos, as fotos de Ilana foram definidas como sem relevância, mas como dizia a ensaísta americana Susan Sontag, parafraseando o filósofo alemão Walter Benjamin, “ninguém fotografa o que não é importante”. Nas imagens de Ilana, muito mais que nostalgia ou solidão, imprime-se o silêncio, o átimo do gesto registrado. “O que chama minha atenção são os lugares de sentimento, como se fossem pequenas erupções. Instantes em que os personagens, ou quem fotografa, estão antes de descobrir algo que a gente nem sabe se eles vão descobrir mesmo”, escreve Ilana de Portugal.

A “intimidade” que surge em seus registros foge do que nos acostumamos a ver hoje em dia, quando as ampliações são, na maioria, grandes e a cor mais grita do que sussurra. E são essas imagens que conversam com as paisagens de Levan, cheias de espaços vazios, por onde nossos olhos passeiam sem saber no que se fixar, o que as torna ainda mais intrigantes.

“Conheço bem Barcelona e nessas fotos procurei explicar o que a cidade é para mim. De alguma forma, tentei misturar ficção e realidade”, explica ele. Nesse aspecto, está mais um elo entre os dois ensaios: histórias a serem contadas, buscas que, na verdade, se encontram no fato de ambos serem estrangeiros nos locais que registraram: “Quando comecei a formatar a exposição em busca de um discurso coeso, percebi que muitas das respostas dos dois artistas eram parecidas”, lembra Gloria.

“Os dois veem a fotografia como um meio para se expressarem, mas nenhum deles se considera fotógrafo. Além do registro, ambos procuraram expor o próprio sentimento, e se o espaço é importante é quase impossível identificar o lugar onde foram feitas as fotos. Os dois lidam com uma linguagem mais intimista”, enfatiza a curadora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo