Morrissey mistura política e problemas

A geração punk e pós-punk está ficando velha. É mais uma a enfrentar o dilema que os ex-jovens dos anos 60 já viveram. Morrissey, um dos mais talentosos arautos da modernidade nos anos 80, chegou aos 46 anos em 22 de maio e lança seu primeiro disco em sete anos refletindo as angústias de envelhecer. “Vocês ainda estão aí?” perguntou ele num show recente. “Eu também, ou ao menos o que restou de mim”, disse. A platéia poderia dizer o mesmo ao som da velha canção de um velho compositor fanho que um dia chamou Caetano de “antigo compositor baiano”:

O CD tem o título de Morrissey, you are the quarry (Morrissey, você é a vítima”), mas ele aparece na capa desafiadoramente com uma metralhadora Thompson daquelas usadas pelos gangsters na época da lei seca americana. Ele mostra que não perdeu a verve abrindo fogo pra todo lado, incluindo ele mesmo em ‘You know I couldn’t last’ (Você sabia que eu não podia durar”).

Radicado atualmente em Los Angeles, Morrissey mostra uma relação de amor e ódio com seu país adotivo ou, ao menos, com seus governantes. “América/ Tua cabeça é muito grande/ Porque América/ Tua pança é enorme/ E te amo/ Gostaria que você ficasse onde você está/ Na América/ Terra da Liberdade, dizem/ e da oportunidade de maneira justa e verdadeira/ Mas onde o presidente nunca é negro, mulher ou gay (…) América/ Criou o hamburger/ Mas América/ Você sabe onde pode enfiar seu hamburger”, canta ele.

Ele também abre fogo contra sua Inglaterra natal em Irish blood, english heart. “Sonho com o dia em que/ Os ingleses odiarão até a morte os Trabalhistas e os Conservadores/ E cuspirão no nome de Oliver Cromwell/ E denunciarão esta linhagem real que ainda o saúda/ E vai saudá-lo para sempre”.

”Morrisey, you are the quarry” traz uma coleção de canções que não passam em brancas nuvens pelo ouvido. Concordando ou discordando, tem mais relevância do que boa parte que se anda produzindo por aí. Sempre se pode esperar mais do que diversão e boas melodias de Steven Patrick Morrissey.

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