Minha paixão pelo Passeio Público

Curitiba é uma cidade fascinante. Conheci a capital paranaense em 1976 e resido nela desde 1984. Nestes 30 anos, entre tantos lugares de lazer que a cidade das flores oferece, desenvolvi uma paixão especial pelo Passeio Público. Faça chuva ou faça sol, de terça-feira a domingo, passeio pelo Passeio. É um lugar mágico.

Enquanto caminho e me mantenho em forma, observo a Ilha dos Macacos, a Ilha da Ilusão, onde Emiliano Perneta (1866-1921) foi coroado o Príncipe dos poetas paranaenses em 1911. Coroação esta a que Wilson Martins (1997) se refere como grande celebração helênica: ?No ambiente de fervente helenismo então promovido pelo neopitagórico Dario Vel-lozo, os oficiantes, envoltos em clâmides largas e solenes, chegaram em luxuosas carruagens e longas procissões, entoando hinos religiosos da antiga Hélade. Foi um espetáculo dificilmente imaginável em outras circunstâncias, escreve Andrade Muricy no Panorama do movimento simbolista brasileiro?.

Gralha azul. Fonte: Revista Idéia

Observo também a diversidade ecológica: árvores, como ipê-amarelo, canela, eucalipto, jacarandá e paineira; aves, como canários, pombos, garças brancas, duas gralhas azuis (ave símbolo do Paraná) e o simpático pelicano, entre outros. E tem mais: ponte pênsil, ciclovia e bicicletário, pedalinhos, restaurante, playground e o portal principal que dá acesso ao Passeio; este é, sem dúvida, uma cópia fiel do portão do Cemitério de Cães de Paris. E, ainda, a feira orgânica (com produtos sem agrotóxicos) que ocorre aos sábados. É uma maravilha.

O Passeio Público foi inaugurado, aos 8 de agosto de 1886, por Alfredo D?Escragnolle Taunay, presidente da Província do Paraná. Neste ano completa 120 anos de existência. Está localizado entre a Avenida João Gualberto e as ruas Presidente Faria, Carlos Cavalcanti e Luiz Leão.

O terreno do Passeio Público, que pertenceu ao industrial uruguaio (radicado em Curitiba) Francisco Fasce Fontana e que foi doado, era um charco. Segundo Euclides Bandeira (1924), foi Taunay ?que idealizou a peregrina audácia de transformar o atoleiro infecto na gracilidade aromal de paisagem repousada e suave, com perspectivas bizarras, numa profusão de folhagens e de flores, numa veneziana evocação miniaturada de canais e lagos. O capricho artístico de Taunay teve, por felicidade, a propulsão complementar do presidente seguinte o saudoso dr. Joaquim de Almeida Faria Sobrinho, cujo visionamento administrativo, magnífico, pelo menos neste ponto, se deve em verdade a existência do belo logradouro?.

Francisco Leite, Heitor França, Rodrigo Júnior, Generoso Borges, Clemente Ritz, Celestino Júnior, Emiliano Perneta, Bueno Monteiro e Santa Rita, durante almoço na Ilha da Ilusão que homenageou Bueno Monteiro, em 1915. 
Fonte: Acervo Casa da Memória.

João Marcassa (1989) explica que, na noite de 19 de dezembro de 1886, justamente no dia em que a Província do Paraná comemorava seu 33.º aniversário, foi instalada a primeira lâmpada elétrica em Curitiba: ?Em relatório manuscrito ao presidente da Província, Francisco F. Fontana, administrador do Passeio, assim se expressou: Graças ao cavalheirismo e interesse do Sr. Schwwing, foi colocado um foco elétrico no Passeio, produzindo excelente resultado. Importante foi o auxílio do engenheiro J. Lazzarini, que com a maior boa vontade e sumo desinteresse, tomou a seu cargo a colocação dos fios elétricos?.

Até 1982 o Passeio Público era o zoológico da cidade. Hoje é sede do Departamento do Zoológico onde residem pequenos animais; os outros animais são encontrados no Parque Iguaçu.

De acordo com o amigo e escritor Francisco Filipak (2002), ?o Passeio Público, com os seus canais, ilhas, penínsulas, canteiros floridos, renques de árvores centenárias, pontes caprichosas, com sua flora e fauna exuberantes, é um recanto de lazer e recreio para os curitibanos?.

Visite o Passeio Público e quem sabe você também acabe se apaixonando por este espaço ecológico bem no centro de Curitiba.

P.S. Tenho lido os livros do amigo João Manuel Simões. São trabalhos que denotam qualidade e inteligência raras. Vejamos algumas de suas criações:

?Era realmente um político de mãos limpas: usava luvas de pelica para as suas crônicas maracutaias?.

?Santos, heróis e gênios indubitavelmente engrandecem um país mas são supérfluos; são os homens comuns que o constroem eles são essenciais?.

?O pior tipo de analfabeto é o que, embora sabendo ler, não lê?.

Jorge Antonio de Queiroz e Silva é palestrante, historiador, pesquisador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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