Mayra Andrade flerta com o Pop e o Jazz em novo CD

Foi a experiência de ter vivido desde os seis anos fora de Cabo Verde (no Senegal, Alemanha, Angola e, a partir de 2002, na França) que fez Mayra Andrade buscar uma sonoridade pop para o seu quarto disco, Lovely Difficult. Conhecida por seu apego a uma música mais tradicional africana e comparada à conterrânea Cesária Évora, a cantora assume que o rótulo da world music pode ter ficado “um pouco restritivo”para o que quer expressar. “Mesmo nas canções escritas em crioulo, fizemos arranjos contemporâneos”, disse na entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S.Paulo por telefone.

Mayra apresenta o novo álbum no Sesc Pinheiros, neste sábado, 07, e domingo, 08. Com letras em francês, inglês, português e crioulo cabo-verdiano, mostra a versatilidade da sua voz. A franco-israelita Yael Naim, o inglês Piers Faccini, os franceses Benjamin Biolay, Pascal Danäe e Tété colaboraram com composições no disco, e segundo a intérprete, são pessoas que a influenciam nessa forma “mais moderna”. “Se eu não sou do universo pop mas esse tipo de música pode me tocar, pensei que o contrário poderia ser possível: levar a música africana para um lugar mais acessível”, explica.

O produtor Mike Pelanconi (conhecido como Prince Fatty, ele já trabalhou com Lily Allen) também foi um dos responsáveis pela sonoridade. No inglês e no francês, as músicas passeiam pelo jazz, pelo reggae (em Les Mots d’Amour) e lembram cantoras como Madeleine Peyroux e a própria Yael Naim.

No show, a formação da banda com baixo, guitarra, bateria e teclados deve reforçar o aspecto menos regional. Para explicar o que mudou no seu trabalho, reflete: “Ia dizer que se tornou uma música mais elaborada, mas na verdade as melodias e os arranjos são mais simples”. Não é à toa: os complexos sons de Cabo Verde são conhecidos pela sobreposição de diversos instrumentos africanos e europeus, em gêneros como a morna e o lundum.

Apesar de buscar uma interpretação atual, ainda é na música tradicional de seu país que a cantora de 29 anos diz sentir “uma emoção como em nenhuma outra”. E é no crioulo cabo-verdiano, a língua popular no país (a oficial é o português), que diz conseguir se expressar melhor. “Componho essencialmente em crioulo, que é a língua na qual a identidade cabo-verdiana toma forma. Sinto que nela produzo algo de diferente nas letras”, conta. Mesmo em We Used to Call It Love – single do disco que impulsionou Mayra por ser a primeira música que gravou em inglês – há um trecho em crioulo, como uma fusão do pop com suas raízes.

Com palavras próximas do português, mas uma concordância particular, o idioma da pequena ilha a oeste do continente africano dá um ar doce às canções. Em Téra Lonji, que homenageia Cabo Verde, Ténpu Ki Bai, leve rock nostálgico e Trés Mininu, música em que fala de um “trio maravilha”, Mayra mostra o que há de mais íntimo em seu trabalho. A única composição em português deste disco é Meu Farol.

No tema que fez para a Ilha de Santiago, mistura as duas línguas faladas no país.

A cantora tem uma ligação forte com o Brasil. Neste ano, estrelou um dos programas da websérie Dominguinhos +, com uma versão para Lamento Sertanejo sustentada no violão de Yamandú Costa e no bandolim de Hamilton de Holanda. Ela também participa de Na Menina dos Meus Olhos, novo single da baiana Márcia Castro, lançado pela internet nessa terça-feira.

Mayra está feliz com o resultado do novo disco, com o qual tem percorrido o mundo em turnê desde o fim de 2013. “Quem já me conhecia me reconhece – não existe a sensação de que sou outra pessoa – mas conseguimos chegar em um público diferente com a nova abordagem”, conta, esperando que seu país apareça cada vez mais no cenário pop mundial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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