‘Los Angeles por Ela Mesma’ destaca a metrópole

Ele divide a capa da edição da revista Cinemascope atualmente nas bancas. “Expanding the frame of international cinema”: expandindo os limites do cinema internacional. Cinemascope virou a bíblia do cinema autoral (e de investigação).

O número 60 traz na capa a foto de Cavalo Dinheiro, o novo Pedro Costa. A chamada é para Thom Andersen. Thom quem? Ele está em São Paulo na dupla condição de jurado da Mostra, na competição de documentários, e também como autor de Los Angeles Plays Itself, Los Angeles por Ela Mesma. Cinemascope o define como o maior “video (film) essayist” da atualidade. Compara-o a Chris Marker.

Domingo, 26, à noite, a Avenida Paulista estava explodindo nas comemorações da reeleição de Dilma Rousseff. No Espaço da Augusta, passava o filme ensaio de Andersen. A barulheira vazava dentro da sala. O diretor estava numa escola de samba. Adorou. A primeira versão de Los Angeles por Ela Mesma é de 2003. Como morador de Los Angeles (em Downtown), Thom Anderson resolveu investigar como o cinema (Hollywood) retratava sua cidade. Em 2003, utilizou excertos de VHS. A nova versão, que Andersen mostra em São Paulo, capta cenas de DVD e Blu-Ray. Já que ia remasterizar imagem e som, Andersen aproveitou para fazer mudanças no texto.

Ele admite: “Quando comecei a fazer cinema, meu trabalho era catalogado como documentário. Mais recentemente surgiu essa definição do filme-ensaio”. Na recente Mostra CineBH, Tag Gallagher, autor de grandes livros sobre Roberto Rossellini e John Ford, exibiu e debateu com o público seus vídeo-ensaios sobre os dois autores e ainda mostrou um terceiro, dedicado a Max Ophuls. “O rótulo de vídeo-ensaio, na verdade, consagra o que esses trabalhos têm de pessoal. Tag e eu estamos falando na primeira pessoa de filmes e autores que estão no imaginário de todo cinéfilo.” Por que Los Angeles? “Por que não?”, ele retruca.

Los Angeles virou uma sigla, L.A., que abriga Hollywood, a capital do entretenimento. Hollywood, como símbolo, independe de sua localização geográfica. Los Angeles consegue ser a cidade mais filmada e fotografada do mundo, mais que Paris e Nova York. E há toda uma história política e social que se pode contar pela forma como o cinema a retrata. Ao iniciar seu projeto, Andersen sabia que alguns filmes não poderiam faltar – Chinatown, de Roman Polanski, Blade Runner, o Caçador de Androides, de Ridley Scott, Los Angeles – Cidade Proibida, de Curtis Hanson. O repórter cita, a propósito do primeiro, Le Mani sulla Cittá, do começo dos anos 1960. Como o exemplar de cinema documentado de Francesco Rosi, a ficção de Polanski tem um lado documentário muito forte. Mostra a batalha do deserto, a forma como a descoberta e canalização das fontes de águas produziram a especulação imobiliária e deram a L.A. sua conformação espacial.

A preferência pela malha viária que favorece o transporte individual – carros – em detrimento de ônibus e metrô, a erradicação dos bairros populares. Tudo isso vai sendo mapeado por meio da imprensa e dos filmes. Os arquitetos que ajudaram a formatar L.A. e a forma como seus prédios mais conhecidos foram “maquiados” para se adaptar a diferentes épocas e filmes. Em 180 minutos – com intervalo -, Thom Andersen dá um testemunho valioso sobre estética e urbanismo. A cidade não é só suas ruas e casas. É também espaços públicos, áreas de lazer, murais.

Anderson conta uma história dos latinos em L.A. só por meio de murais. E os direitos, como ficam? Não é proibitivo usar todas essas imagens? “Se tivesse de pagar, seria extorsivo. Como estou falando de patrimônio histórico e cultural, a lei americana é clara e me garante o direito de expressão.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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